21 Jan 2025
> Helena Terra
Quem me conhece sabe que não me queixo por ter tido a felicidade de nascer mulher e continuar a viver mulher. Nunca me senti especialmente preterida ou preferencial por ser mulher. Nunca imaginei, em pleno século XXI, estar a escrever sobre factos que me levam a concluir que, ainda hoje, ser mulher é uma aventura nem sempre bem-sucedida.
As mulheres têm, por norma, uma maior capacidade de fazer mais que uma coisa ao mesmo tempo, ouvir mais que uma coisa ao mesmo tempo e pensar em mais que uma coisa ao mesmo tempo, por comparação com os homens. Isto tem explicações, fisiológicas, cromossomáticas, educacionais, entre outras certamente. Não vou cuidar do que gera este tipo de diferenças.
Na parte que me toca quero manter todas estas diferenças que me distinguem de um qualquer homem. Porque eu distingo-me de um qualquer homem, mas isso não pode fazer com que nenhuma mulher viva na (in)diferença porque sim, porque é mulher.
É para mim muito difícil lidar com o facto de que, no mundo, em cada dez minutos, morre uma mulher vítima de violência doméstica. Significando isto, vítima do maior dos maus-tratos por homens muito próximos; sejam maridos, namorados, ex-maridos ou ex-namorados, pais, irmãos, etc.
É muito difícil de lidar com o facto da diferença salarial para homens e mulheres, hoje, ainda rondar os 30%.
É difícil aceitar que mais de 90% das faltas ao trabalho para assistência a filho menor seja apresentada por mulheres.
É difícil para mim aceitar que muitas mulheres afirmem que a sua não participação na vida pública se deva ao facto de ter de cumprir com as tarefas da casa, leia-se, fazer o jantar a horas para o marido e filhos.
Tenho dificuldade de compreender, e mais de aceitar, que nas famílias com filhos e filhas, a quase natural obrigação de tratar de Pais idosos e dependentes seja das filhas.
O Lusitano machismo de que o homem é o chefe de família ainda me causa perplexidade e, no caso das empresas de tipo familiar, causa-me brotoeja que, em muitos casos sendo as mulheres as “visionárias” e as que “carregam os maiores pianos”, os empresários sejam os maridos, os pais, o irmão mais velho…
Sou uma felizarda, porque os homens que comigo se cruzaram na vida e os que nela permanecem, não me encontram nenhuma capitis deminutio, que advenha do facto de ser mulher, nem veem em mim a (in)capacidade de poder fazer coisas que eles fariam.
Ainda hoje se fala muito de luta pela igualdade, mas o que verdadeiramente deve mover a todos é a luta pela igualdade de oportunidades. Uma mulher que tenha oportunidade afirma-se por conta dela.
Helena Terra, Advogada