Ana Isabel da Costa e Silva *
Nuno Portas, em 2000, no artigo intitulado ‘Espaço público e cidade emergente – os novos desafios’, referia que o espaço público ou coletivo se tornara, em duas décadas, ou seja, desde 1980, no centro de debate sobre as políticas urbanas ao ser tomado como um valor em si mesmo, como algo capaz de suportar ou desencadear outros processos económicos ou culturais.
Nesse mesmo artigo, Portas identificou ‘três etapas da reconquista’, ou seja, classificava três gerações de projetos, com características próprias, de intervenção no espaço público.
A primeira integrava-se em programas de regeneração urbana das áreas centrais, mais ou menos históricas, embora muito delimitadas.
A segunda geração investia na valorização de redes de transporte intermodal, de reconversão de vazios urbanos ou desocupados por indústrias deslocalizadas ou, entretanto, encerradas, inseridas às recém-chegadas ‘estratégias da cidade’.
E, por último, uma terceira geração que correspondia ‘à investigação sobre redes de cidades ou de arquipélagos urbanos’, sem terem, ainda, encontrado ‘modelos de desenho’ que permitissem responder ‘à nova escala e complexidade das extensões urbanas’.
Oliveira de Azeméis, sob a tutela do poder camarário, acordou para a ‘onda dos passeios’, mas continua desconectada para a importância do espaço público.
Intervir no espaço público obriga a um olhar que convoca vários níveis de atuação, nomeadamente a localização e tipo de iluminação, a capacidade de acolher estacionamento ou compatibilização com capacidade instalada, a relação da altura da guia do passeio e localização dos acessos dos automóveis aos lotes, a relação da altura do passeio e as descidas de plano para acesso dos peões às passadeiras, a localização das passadeiras... e, ainda, a capacidade de compatibilização do novo desenho com o desenho do pré-existente.
No troço entre Santo António e o Hospital, com a intervenção levada a cabo nos últimos tempos, o passeio tornou-se mais estreito uns centímetros. As ondas que existem, para quem percorre o passeio, não respeitam os 6%, obrigatório para a construção de uma rampa. A pedra de remate do passeio - a guia - é estreita e arredondada, o que torna a relação do peão com o limite mais vulnerável...
Naquele caso em particular, tudo parece falhar. Se a escolha do material e da dimensão das guias é duvidosa, o resto não foi pensado. Temo que o valor que tínhamos disponível poderia ter sido utilizado de uma forma mais ajustada à realidade. Já dizia o ditado popular: ‘O barato sai caro!’
* Arquiteta (anadacostaesilva@correiodeazemeis.pt )