14 Jan 2025
> António Magalhães
Em 5 de Janeiro de 1799, Oliveira de Azeméis seria, naturalmente, uma povoação essencialmente rural, não mais que um povoado ao longo da velhinha Rua Direita, desde Lações até às Aldas, um trajecto a que correspondem hoje, aproximadamente, as ruas Conde de Santiago de Lobão, Bento Carqueja, António Alegria e Rua do Cruzeiro. Mas a hoje Praça Dr. José da Costa, então Praça dos Vales, era já centro de um mercado semanal, ao domingo, para onde se dirigiam multidões desde a beira-mar até à serra. Velhos escritos dizem que se negociavam semanalmente cerca de quarenta carros de milho, então principal alimento da população e do muito gado. Correspondendo um carro de milho a 40 alqueires e pesando cada alqueire cerca de 15 kg, conclui-se que por aqui se comerciavam dominicalmente 24 mil kg, isto é, 24 toneladas.
A então promovida vila de Oliveira de Azeméis teria já alguma capacidade económica, porque, muitos anos antes, construíra-se a Igreja Matriz, considerada entre os melhores templos de uma vasta região.
Divergem as opiniões sobre os locais onde se instalou a Câmara até à entrada em funcionamento dos Paços do Concelho. A chamada casa amarela, onde durante décadas funcionou o Grémio da Lavoura, terá sido seu abrigo, sabendo-se que aí se instalaram a cadeia e a casa do carcereiro. No imponente edifício que conhecemos funcionaram, desde 1850, os serviços da Câmara, no ano seguinte o Tribunal e a cadeia. Só os menos jovens poderão recordar a imagem, no rés-do-chão, de rostos famélicos, espreitando pelas grades, de onde penduravam uma pequena lata para uma moeda ou um cigarro.
Tudo pertence ao passado. Dentro de poucos meses, os Paços do Concelho serão esvaziados. Despejado também o colégio, “alma mater” de tantas e tantas gerações. Tudo concentrado, para eficácia dos serviços e conforto dos munícipes, no histórico solar dos Sequeiras Monterrosos, cuja remota nobreza foi reconfirmada, em 30 de Janeiro de 1699, pela concessão da carta do brasão de armas, que, resistente à erosão dos séculos, orna a beleza e a riqueza de uma frontaria recuperada pelas mãos de mestres.
Congratulemo-nos.
(Escrito de acordo com a anterior ortografia)
António Magalhães