Artistas do circo vivem da solidariedade dos oliveirenses

Concelho Exclusivos

A tenda não é armada, faltam as gargalhadas e sobram os lamentos de quem quer trabalhar e não pode muito por culpa da pandemia que se instalou em Portugal há quase um ano. Não há pipocas nem algodão doce, os carros não andam de terra em terra e o tempo até custa a passar. Gino Marinho não esconde a satisfação que tem quando atua em Oliveira de Azeméis e isso deve-se, possivelmente, ao facto de ter nascido neste concelho, mais precisamente em Ul, há 66 anos, quando os seus pais, também artistas de circo, davam um espetáculo naquela freguesia. Naquele tempo, os circos atuavam a céu aberto para toda a população. Agora, os tempos são outros mas, de repente e sem estarmos à espera, tudo também mudou num abrir e fechar de olhos devido à pandemia provocada pela Covid-19. O Circo Eddy fez a sua última atuação a 07 de março de 2020 em Anadia. A tenda foi desmontada e ninguém sabe até quando estará assim. Depois de ter estado instalado, durante “cinco ou seis meses”, em Vila Nova de Poiares, de onde “fomos convidados a sair”, o Circo Eddy encontra-se, desde o passado mês de novembro, na Quinta do Barão, em Loureiro. Apesar de ter a sua residência em Gulpilhares, Vila Nova de Gaia, Gino Marinho defende não ter terreno necessário na sua casa para estacionar todos os seus camiões e os abrigos dos animais do circo. Sem bilheteira desde março, sem qualquer apoio do Estado e sem qualquer outra fonte de rendimento, Gino Marinho, Isabella Marinho, a sua esposa, e Eddy Marinho, o filho, vivem por estes dias da solidariedade da população, que lhes faz chegar todo o tipo de bens alimentares e outros de primeira necessidade. “Estamos a ser bem tratados. Temos ajudas de duas associações de Oliveira de Azeméis, do presidente da Junta de Freguesia, do senhor do Restaurante do Barão, de particulares, de uma senhora vendedora ambulante, as padeiras trazem-nos pão e uma fábrica contratou uma padaria para nos trazer dez pães todos os dias de manhã”, começou por enumerar, embora não sabendo os nomes dos benfeitores, Gino Marinho, o proprietário deste circo e que tem como sócio o seu sobrinho. O maior agradecimento de Gino Marinho vai, no entanto, para a Associação Recreativa e Cultural de Loureiro, na pessoa do seu presidente Manuel Pires, “que é meu amigo”, “por nos deixar estar aqui e peço que não nos mandem embora enquanto este problema não acabar”. Além da alimentação para os três elementos desta família (o sobrinho e sócio, a esposa deste e os dois filhos estão em casa), ao Circo Eddy chega também a alimentação para os cerca de 30 animais, entre cavalos, póneis, burros, lamas, cabras, cães, pombas e caturras. “As pessoas têm-nos ajudado bem. Ainda há pouco trouxeram um rolo de feno para os animais”, exemplificou Gino Marinho. “Falta-nos o riso das crianças” Quando o circo foi obrigado a parar em março, Gino Marinho pensou ser uma fase passageira, mas o certo é que a interrupção da atividade se tem prolongado. “Tem sido muito, muito difícil estar sem atuar. Há colegas nossos que já entraram em desespero e estão a ser seguidos por psiquiatras”, lamentou o empresário, confessando que “faltam-nos os aplausos, o riso das crianças, o cheiro das pipocas. É muito triste”. A viver sem qualquer tipo de apoio – “somos o único país do mundo em que não somos subsidiados pelo Governo, porque não nos consideram cultura” -, Gino Marinho interrompe o seu discurso e olha para os seis veículos pesados e cinco ligeiros que estão ali ao lado, estacionados no terreno, e revela: “Não têm selo, seguro nem vistoria e já sei que as contas vão chegar com multas”. O empresário faz contas por alto e admite que para pôr os carros a circular novamente na estrada precisará de cerca de dez mil euros. “Quando puderem circular terei de ver como fazer. Contrair empréstimo, vender alguma coisa, não sei mesmo. Quanto mais tempo estivermos parados, mais o imposto se vai agravar e a multa será maior”, afirma o artista, que admite fazer tudo para reunir condições para voltar à atividade assim que for possível. “Queremos é voltar. Temos que ver, se fazemos empréstimos, se hipotecamos a casa que temos ou se a vendemos… Era a casa para a minha velhice, quando deixasse o circo tínhamos ali o nosso cantinho”, contou, emocionado. “Triste Natal” O Natal de 2020 vai ficar para sempre marcado na memória dos artistas de circo e esta família não será exceção. “Que tristeza… que coisa mais triste”, recordou Gino Marinho por entre suspiros. “É a altura do ano que podemos ganhar uns trocados a mais. De 15 de dezembro a 06 de janeiro trabalha-se muito. Chegamos a fazer quatro ou cinco espetáculos por dia”, explicou Gino Marinho que faz de tudo um pouco no circo. “Eu conduzo, trato da burocracia, à noite faço o palhaço, deixo o palhaço e vou para a bilheteira, depois vou fazer de locutor, depois faço a magia. Como somos poucos temos que fazer vários números”. Nem os problemas de saúde – só tem um rim, já fez 17 operações e tem “mais quatro ou cinco para fazer” – o fazem abrandar ou largar esta vida. Em Ul à procura da parteira Gino Marinho nasceu no circo e já é a quinta geração da sua família que segue esta arte. Em abril de 1955, o palco do circo estava instalado em Ul para mais um espetáculo quando a sua mãe entrou em trabalho de parto e Gino Marinho veio ao mundo pelas mãos de uma parteira ali da zona. No início do ano passado, quando veio para mais uma atuação no nosso concelho, Gino Marinho decidiu ir à procura da mulher que o ajudou a nascer. “Nasci à beira do Cruzeiro, em Ul. Os meus falecidos pais tinham-me dito que era ali que a parteira vivia e eu quis ir conhecê-la. Procurei e encontrei-a. Tem noventa e tal anos…”, contou o empresário, que continuou a contar a sua história: “Quando eu disse quem era, a senhora lembrou-se logo e contou-me pormenores. Eu gravei o momento e nunca me vou esquecer desse dia”, revelou, emocionado.

Partilhar nas redes sociais

Comente Aqui!









PUB
Últimas Notícias
Oliveirense está viva na luta pela permanência
25/04/2025
Os 51 anos do 25 de abril em OIiveira de Azeméis
25/04/2025
Oliveirense Bustamante foi segundo em Trancoso
24/04/2025
Agenda desportiva para domingo, 27 de abril
24/04/2025
Agenda desportiva para sábado, 26 de abril
24/04/2025
Agenda desportiva para sexta-feira, 25 de abril
24/04/2025
Nova creche de Ul vai ter o nome de Aldina Valente
24/04/2025
Escola de Dança Diana Rocha volta a conquistar troféus no All Dance Portugal
24/04/2025