4 Jul 2022
Albino Pinho *
Após 2 anos de interregno forçado, devido ás razões que todos conhecemos, eis o regresso, quase sem restrições, das nossas festas e romarias. Nas últimas décadas muita coisa mudou. O leque de gostos e divertimentos hoje é maior e mais diversificado. A fé e o bairrismo já não são o que eram, e o dinheiro tem outras prioridades. O individualismo ganhou terreno ao colectivo. Por isso as festas religiosas hoje perderam muito da sua essência d’outrora. A maioria das que ainda resistem dão a impressão que tem mais carros que pessoas. Na sequência dos meus apontamentos anteriores, sobre as festas de Fajões, e arredores, vou-me situar no que eram as festas grandes de Fajões, em honra da Sra. do Rosário, Sra. do Carmo e Sra de Fátima, a festa das 3 senhoras. Estas festas ao início eram realizadas em fins de Julho, para posteriormente passarem para meados de Agosto. Fajões, na época muito mais rural que industrial, encravada entre o litoral e a serra, com mais remediados que endinheirados, onde os seus habitantes dividiam o ganho do seu pão, no amanho das suas várzeas, e socalcos de sequeiro, confeção de calçado em S.João, fabricação de loiças metálicas ou outras profissões tradicionais. Perde-se na noite dos tempos o início das ditas festas grandes. Mas foi talvez nos anos 60 e 70, que devido ao contexto da época, e ao salutar espírito bairrista de concorrer com algumas freguesias vizinhas que elas atingiram o seu apogeu. Devido ao espaço limitado e acidentado do local das festas, os carrocéis eram distribuídos por algumas leiras privadas ao fundo da calçada do adro. O comprimento das ornamentações feéricas, mesmo com potência muito frouxa, muitas vezes visivél só a curta distância, a par da quantidade de carrocéis eram um ponto muito importante a determinar a grandeza das festas. A outra era a quantidade de andores na procissão do triunfo. Penso que nas duas Fajões não deixou os seus pergaminhos por mãos alheias. Nos anos 70, talvez 74 ou 75, a comissão de festas conseguiu ligar com arcos iluminados, o lugar do Cruzeiro até ao fim da recta do lugar da Cruz. Para não falar do adro, da calçada e a sua matriz altaneira. Nos andores também foi batido outro record. Entre grandes, médios e minúsculos, todos os santos e santinhas da terra foram passeados em andor na dita procissão, de quase 3km, num trajecto nem sempre nívelado, e por vezes em dia de canícula extrema. Na parte profana também não se descurou nada, e muitos dos artistas top da época ás nossas festas vieram, como Neca Rafael, Fernando Farinha, José Cid, Marco Paulo, António Calvário etc etc. Depois havia a parte do foguetório, a sua qualidade e quantidade. Também aqui Fajões fazia estardalheira que chegasse. O resto eram as barracas de comes e bebes, alguns exageros, e 3 dias bem passados, onde quase todos esqueciam as agruras da vida. Pelos meus cálculos a última destas festas grandes realizou-se há mais de 3 décadas. Como disse os tempos mudaram, os fajoenses, e o povo em geral, precisam, e têm necessidade de se socializar, só assim se consegue manter viva a alma de uma comunidade. Outros eventos se criaram para o efeito, e quem sabe um dia as festas grandes voltem noutros moldes.
(O autor não segue os acordos ortográficos, nem qualquer alteração não oficial).
* Colaborador do Correio de Azeméis