Comboio direto até ao Porto

Destaques Opinião

Manuel Castro Almeida *

O governo apresentou para discussão pública o projeto de Plano Ferroviário Nacional, onde se prevê que os sanjoanenses continuarão a não poder entrar no comboio em S. João da Madeira e seguir até ao Porto, sem mudar de comboio. Isto porque se estabelece que a linha do Vouga mantenha a sua atual bitola (distância entre carris). Tal significa que a Linha do Vouga ficará a ser a única linha do país com bitola métrica, ficando todas as restantes linhas com a chamada bitola ibérica.

A ser assim, a Linha do Vouga ficará uma “ilha ferroviária” incompatível com toda a rede ferroviária nacional. Os comboios que circulam na Linha do Vouga não po- dem circular nas outras linhas. Se a Linha do Vouga mantiver a bitola métrica atual, nunca mais será possível entrar em Oliveira de Azeméis, S. João da Madeira ou Santa Maria da Feira e seguir até ao Porto no mesmo comboio.
Em 2005 os órgãos autárquicos de S. João da Madeira votaram pela sua integração na Área Metropolitana do Porto. Para que esta integração se concretize é fundamental reforçar as condições de mobilidade no interior da área metropolitana. Hoje ninguém usa o comboio para se deslocar de S. João da Madeira ao Porto. Mas está agora ao nosso alcance a possibilidade de passar a fazê-lo. Além da eletrificação da Linha do Vouga, que o Plano Ferroviário já contempla, bastaria alterara a bitola para que a Linha do Vouga pudesse entrar na Linha do Norte, um pouco antes de Espinho e seguir diretamente para o Porto. Com alguns investimentos de correção de traçado, será possível percorrer os 33 quilómetros entre Oliveira de Azeméis e Espinho em 35 minutos (incluindo paragens de percurso). A viagem entre S. João da Madeira e Espinho demoraria cerca de 28 minutos, com velocidades compreendidas entre os 80 e os 100 Km/hora.
Da mesma forma que os municípios do norte da Área Metropolitana têm acesso direto ao Porto, através do Metro do Porto, também os municípios do sul da área me- tropolitana (Oliveira de Azeméis e S. João da Madeira) devem ter também uma ligação direta ao Porto através da Linha do Vouga. 
O dinamismo da zona de Oliveira de Azeméis, S. João da Madeira e Santa Maria da Feira não é compatível com visões de museologia ferroviária que acabam por condenar esta região ao isolamento ferroviário em troca de um vago saudosismo associado à memória do comboio a vapor. Não pode aceitar-se que a Linha do Vouga seja remetida para o grupo das linhas com potencial de turismo ferroviário, a par com a linha do Douro, do Corgo ou da Beira Baixa. Precisamos da Linha do Vouga para aceder à nossa capital Metropolitana e Regional em condições ambientalmente sustentáveis.
O canal ferroviário existente tem que ser aproveitado para substituir os milhares de carros e autocarros que diariamente se deslocam para o Porto. Para tal, a Linha do Vouga não pode continuar separada da restante rede ferroviária.
Se os oliveirenses, sanjoanenses e feirenses tiverem a oportunidade de entrar no comboio nas suas terras e seguir diretamente até ao Porto, não há dúvida que farão essa opção, em lugar do transporte individual. No Porto, em Campanhã ou futuramente nas Devesas, apanham o metro para as Universidades, os Hospitais, ou o centro da cidade do Porto. Se tiverem de mudar de comboio em Espinho e depois em Campanhã, isso fará toda a diferença e desincentivará o transporte ferroviário, favorecendo o automóvel.
Há 114 anos o país fez um grande investimento na Linha do Vouga. Depois desse grande investimento nada mais aconteceu de relevante nesta linha. É agora o tempo de aproveitar o canal ferroviário existente, introduzir algumas alterações que permitam aumentar a sua velocidade, eletrificar a linha e introduzir a bitola ibérica. Será um pequeno custo, comparado com o inves- timento do tempo do Rei D. Carlos, que D, Manuel II veio inaugurar em dezembro de 1908.
Até há pouco tempo dizia-se que a Linha do norte estava superlotada entre Ovar e o Porto, não permitindo aumentar o número de comboios em circulação. Por essa razão seria impossível que os comboios da linha do Vouga entrassem diretamente na linha do Norte em direção ao Porto. Mas esse argumento vai terminar dentro de poucos anos. Com a construção de uma nova linha para a alta velocidade, abrem-se novas oportunidades para circulação de maior número de comboios.
Se a manutenção da bitola métrica da Linha do Vouga ficar consagrada no plano ferroviário nacional, toda esta região ficará desprovida de ligações ferroviárias porque tal significaria a continuação da morte lenta desta linha. Pelo contrário, está nas mãos desta geração garantir um novo impulso que coloque a linha do Vouga ao serviço do desenvolvimento económico, do bem-estar e da sustentabilidade desta região.
Este plano ferroviário vai durar até 2050. A atual geração de autarcas não terá outra oportunidade de garantir a plena integração desta região na Área Metropolitana do Porto a que pertencemos.

*Ex-secretário de Estado do Desenvolvimento Regional e ex-presidente da Câmara Municipal de São João da Madeira
In ‘O Regional’ de 01 de dezembro

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