De olhos cansados…

Helena Terra

Helena Terra *

Não vou escrever sobre presbiopia, ou vulgarmente chamada de vista cansada. Sobre isto não percebo nada e apenas posso falar da minha experiência pessoal. Com passar dos anos, o cada vez maior uso de ecrãs, sejam o do telemóvel ou do computador, levam a que o olho tenha dificuldade de focar adequadamente objetos próximos e a visão fique turva ao ler ou realizar atividade manuais que necessitem do uso da visão de curta distância.
Vou falar de outra realidade muito mais preocupante. A população tida como idosa, ou seja, com mais de 65 anos, corresponde a 26,6% da totalidade da população, tendo vindo a manifestar, nos últimos anos, um permanente crescimento.
Por sua vez, as pessoas em idade ativa, entre os 15 e os 64 anos, representa 63,1%, o que não significa, necessariamente, população trabalhadora e a contribuir para o PIB, até porque, destes, muitos são estudantes.
A esperança média de vida da população, no triénio 2021-2023, quanto aos homens fixou-se em 78,37 anos e às mulheres em 83,67. Apesar da esperança média de vida aumentar, os “sinais” próprios do envelhecimento surgem mais cedo. A rede social é manifestamente insuficiente para dar resposta a todas as necessidades.
Pela Portaria n.º 201-A/2020 foi criado o Programa de Alargamento da Rede de Equipamentos Sociais - 3.ª Geração, adiante designado por PARES 3.0. que tem por finalidade apoiar o desenvolvimento, consolidação e reabilitação da rede de equipamentos sociais, promovendo a melhoria sustentada das condições e dos níveis de proteção dos cidadãos. Este diploma legal publicado em agosto de 2020 prevê que os seus efeitos possam retroagir para cobrir custos assumidos a 01/01/2020. A pandemia por covid 19 obrigou as IPSS’s e congéneres a um esforço de readaptação e criação de condições tão extraordinárias como a situação que se vivia. Ora, de seguida, a maior parte destas instituições aproveitou este programa para cobrir ou diluir estes custos, o que é natural.
Há, cada vez mais, idosos sem respostas residenciais às suas necessidades. O Serviço de apoio domiciliário nos serviços que presta é manifestamente deficitário, porque nem só de “fraldas mudadas” e “pão” sobrevive um(a) idoso(a). As ofertas privadas são poucas, entre o mais porque algumas das exigências formais não fazem sentido num país chamado Portugal e, as que existem, porque não são comparticipadas, são inatingíveis para muitos idosos e respetivas famílias.
A semana passada, falando com uma pessoa idosa com algumas limitações de ordem física, mas perfeitamente bem do ponto de vista da consciência, a mesma disse-me ter os olhos cansados. Indagando o que me queria dizer, a mesma respondeu-me: “tenho os olhos cansados de viver e conviver com a indiferença, com o desapego da família, com o enfado dos serviços hospitalares quando lá tenho que ir com um problema agudo, com a correria de toda a gente que tem tempo para tudo menos para as pessoas… e com os olhos rasos de água disse, sabe, a solidão é a maior doença que eu e todos os outros temos e isto cansa os meus olhos!”. 
 

 * Advogada
 

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