28 Jan 2025
> Helena Terra
Vivemos num mundo de exacerbado individualismo. Cada individuo vive fechado sobre si mesmo, voltado para o seu empoderamento que passa, na maioria das vezes, por um consumismo quase selvagem. Todos vivem com outros, mas não vivem juntos e, se isso for instrumental da concretização de egos pessoais vivem uns contra os outros, até podem partilhar “espaços”, mas, na maioria das vezes, não vivem juntos.
As nossas sociedades demandam humanismo. Neste cada individuo vive investido de liberdade com responsabilidade e esta é coletiva. Cada indivíduo vive e organiza-se com os outros, organizando-se para viver em comunidade. Cada um tem de se preocupar com a coisa pública com o bem comum, sendo que este é uma construção de todos e não responsabilidade apenas de alguns.
O ser humano é uma criação esplêndida que tem como caraterística distintiva a capacidade de pensar. O pensamento implica conhecimento e, um e outro, são as ferramentas imprescindíveis para fazer escolhas e para a capacitação de todos e de cada um.
Com facilidade dizemos e ouvimos dizer que, hoje temos a geração mais qualificada de sempre. Com frequência ouvimos declarações mais ou menos pomposas sobre a necessidade de premiar o mérito, mas com frequência confundimos meritocracia com sucesso. Ora, não estamos a falar de sinónimos. É possível ter mérito, qualidades dignas de apreço e honra demonstrada na realização de algo notável, inesquecível, exímio e não se ter sucesso. Do mesmo modo é possível, muito possível, ter sucesso sem nenhum mérito. Atingir o triunfo à custa da desgraça alheia, atingir uma vitória por mera sorte ou, ainda pela capacidade de suceder a alguém que já havia alcançado sucesso.
Estamos num momento da nossa história coletiva em que não nos podemos bastar com proclamações da existência contemplativa de problemas e necessidades. Além de os identificar, uma sociedade humanista tem de agir para procurar soluções. Para isso vai ser necessário fazer escolhas e tomar posições definitivas face àquilo que será o futuro da humanidade. Mas nada disto se consegue com proclamações dos “vencedores” que responsabilizam os “vencidos” por todos os problemas existentes. É necessário um regresso à nobreza da política, ao debate político das vivências democráticas que se complementam. É necessário pensar, intervir e construir caminhos em comum, de forma empenhada, comprometida, mas desinteressada.
Não só não podemos alimentar, como temos de combater, com ferocidade, qualquer extremismo, venha ele de que lado vier. É forçoso travar uma luta apertada contra a desinformação, a intoxicação de supostas notícias que criam perceções sem nenhum respaldo na realidade.
É preciso usar e abusar do esclarecimento, só assim se pode combater e levar de vencida a ignorância que, além de ignorante, por norma é atrevida e arrogante.
Como alguém disse, “a política não vive do salvador da pátria. A política vive de engrenagens, de diálogos, de convivência dentro dum ambiente em que se faça política, pelo escrupuloso respeito das regras da democracia”.
Helena Terra, advogada