3 Apr 2025
Unidade de Geriatria do Hospital S. Miguel já recebeu estagiários de várias regiões do país
A Unidade de Geriatria do Hospital São Miguel, em Oliveira de Azeméis, já registou perto de 700 internamentos desde que entrou em funcionamento, em junho do ano passado. A unidade geriátrica aguda e de orto-geriatria é especializada no internamento e tratamento de doenças associadas ao envelhecimento.
Já são números “muito importantes” e que se vão “repercutir no futuro”, fazendo com que o Hospital S. Miguel “surja no mapa como um hospital a contar para admitir e tratar bem dos doentes mais velhos” do país. As palavras são de Gonçalo Sarmento, médico e coordenador da Unidade de Geriatria, em entrevista à Azeméis TV/FM.
O médico coordenador dá conta de que a Unidade de Geriatria tem recebido estudantes de enfermagem e de medicina, que vêm até Oliveira de Azeméis para realizarem os seus estágios e adquirirem competências na área da geriatria. “Temos o caso de uma assistente hospitalar de um hospital do Grande Porto que se encontra aqui a estagiar. Para nós é um privilégio termos médicos de hospitais centrais a reconhecerem-nos como um bom centro de formação”, admite Gonçalo Sarmento.
Para o médico coordenador, ter uma unidade desta natureza fora dos grandes centros urbanos tem uma importância significativa, nomeadamente devido ao ambiente mais “calmo” e “tranquilo” que proporciona aos utentes. “Arranjámos aqui uma forma de orgulhar toda a gente, em especial os oliveirenses. Sabemos que temos uma unidade de cuidados geriátricos de excelência, uma das melhores do país, e isso é de louvar e de nos deixar a todos orgulhosos”, argumenta.
Há 37 anos que Isabel Costa, gestora da Unidade de Geriatria, trabalha na unidade hospitalar e assiste às várias transformações do serviço prestado aos utentes. “Este serviço estava um pouco parado em termos de movimento, porque tínhamos só casos sociais. Claro que agora o trabalho é muito maior, mas é muito mais gratificante”, confessa a gestora. Isabel Costa espera que a unidade em Oliveira de Azeméis seja uma “alavanca” para que se dinamizem outras por todo o país.
“A área da Geriatria era muito esquecida. É uma grande necessidade para Portugal, os outros países já estão muito desenvolvidos nesta área e a nossa população está a envelhecer: temos que apostar nas pessoas idosas para que o seu envelhecimento seja o mais autónomo possível”, sustenta a gestora oliveirense. Também a médica Alice Cambra reconhece as grandes diferenças registadas na atividade desta unidade.
“Quando começou a funcionar esta unidade, os casos mudaram completamente. Quando são doentes agudos, com potencial de reabilitação, obrigam a ter médico dia e noite, e sempre com uma taxa de ocupação altíssima e uma rotação enorme”, explica a médica, que dá conta de que existem 30 camas de doentes de geriatria aguda e 6 camas de orto-geriatria, que são os doentes operados. “Enquanto que na geriatria aguda os doentes têm mais de 75 anos, os de orto-geriatria têm mais de 65 anos. O objetivo é colocá-los o mais rapidamente possível no seu nível basal.”
A autonomia é uma das valências desenvolvidas na Unidade de Geriatria, desde atividades físicas a atividades que trabalhem a cognição dos utentes. Em entrevista à Azeméis TV/FM, Carminda da Costa Azevedo, enfermeira de Reabilitação, explica o tipo de atividades dinamizadas na unidade. “Tentamos sempre manter a funcionalidade que o doente teria previamente ao internamento. Também fazemos atividades de desenho e pintura para manter a motricidade fina”, explica a profissional de saúde.
A equipa desenvolve também atividades cognitivas, como questionários de cores, nomeação de animais e de objetos. “Assim, mantemos essa parte ativa da memória, para não envelhecer tão rapidamente”, explica ainda. Carminda Azevedo dá conta de que a unidade tenciona envolver, cada vez mais, os familiares dos utentes nas atividades dinamizadas pela equipa, sobretudo os pacientes da orto-geriatria.
“Envolvemos sempre os familiares nas atividades para ajudarem a manter os utentes o mais autónomo e íntegro possível, nomeadamente no treino de marcha, nas transferências, ajudar a levantar e a deitar na cama ou a ir à casa de banho”, explica a enfermeira.
Durante a sua visita à Unidade de Geriatria do Hospital S. Miguel, a ministra da Saúde, Ana Paula Martins, lançou o desafio à equipa de medicina interna oliveirense para que se criasse no concelho o primeiro Centro de Responsabilidade Integrada (CRI) de geriatria do país.
“Vamos, a partir de Oliveira de Azeméis, de Entre Douro e Vouga, desta equipa de medicina interna orientada para a geriatria, fazer o primeiro CRI, e vamos legislar no sentido de, a partir daqui, termos mais 4/5 [centros hospitalares] que possam fazer o caminho que nós precisamos”, declarou a ministra, em entrevista à Azeméis TV/FM.
Gonçalo Sarmento, médico coordenador da unidade oliveirense, confirma que a sua equipa aceita este desafio. “Enquanto coordenador, aceitaria iniciar já esse projeto. O Conselho de Administração está a trabalhar connosco nesse sentido e, o quanto antes, apresentaremos à o nosso projeto de CRI. Agora estão também a trabalhar os gestores, porque há todo um suporte económico-financeiro que tem que ser realizado paralelamente à atividade clínica”, avança o médico.