17 Apr 2025
> António Magalhães
A nossa Páscoa, como muitas outras festas da Igreja de Roma, tem origem na Páscoa hebraica, que foi instituída na comemoração do prodígio em virtude do qual o faraó se determinou a deixar sair os israelitas do Egipto. E comportava, além da imolação do cordeiro pascal, vários outros ritos.
O cordeiro aparece desde os primeiros tempos do cristianismo entre as manifestações de arte, considerando-se como a mais antiga a pintura surgida numa catacumba romana. Mas as melhores representações terão sido gravadas nos vasos de argila, pedras sepulcrais e mosaicos dos primeiros dez séculos depois de Cristo.
Mais recentemente, num determinado período em que nem sequer alguns membros da Igreja escaparam à perturbação reinante, tempo em que tudo era contestado, os abalados espíritos de muitos entenderam por bem suprimir todas as manifestações exteriores de culto, tendo à cabeça o compasso e as procissões.
Felizmente, o momento da reflexão chegaria, e não escasseiam hoje, mesmo entre os não crentes, vozes autorizadas a proclamar que o compasso e as procissões representam manifestações de uma cultura que importa preservar. Prevaleceu o bom senso. Por isso, e uma outra vez, ouviremos soar pelas avenidas, ruas caminhos e quelhos, a sonora campainha a anunciar que Cristo ressuscitou.
A Páscoa é, de facto, um dos períodos em que as tradições religiosas populares mais se afirmam no nosso país. A tradição do “compasso”, embora porventura com menos adeptos, continua bem viva, porque o povo faz questão de a manter assim. E na conhecida falta de padres que assegurem a visita pascal, os leigos substituem-nos à frente do cerimonial. Uma prática que as circunstâncias impuseram, inicialmente aceite com algumas reservas, hoje consumada de todo.
Não faltam, no entanto, a campainha que vai à frente do cortejo a anunciar a sua chegada, a caldeirinha da água benta, a cruz “aparelhada” de acordo com a tradição, nalgumas aldeias ainda a cesta dos ovos e a saca da fruta. Hoje os ovos e a fruta já não têm o peso de outros tempos, mas o envelope com a contribuição monetária é, porventura, mais recheado que em tempos idos.
Também, neste aspecto, os velhos usos se alteraram profundamente. A recolha do compasso, durante séculos receita do pároco e desejado auxílio, em tantos casos, para conhecidas dificuldades, constitui hoje achega para as obras paroquiais, aqui e ali, nos difíceis tempos que correm, socorro dos mais desprotegidos.
(Escrito de acordo com
a anterior ortografia)