23 Oct 2025
> Albino Martins
Decorrida uma semana sobre a primeira leitura dos resultados das últimas autárquicas, o país ainda faz contas e analisa razões que levaram a surpresas ou à falta delas. Por cá não fugimos à regra…
Começamos por não fugir à regra do país ao termos mais forças concorrentes assim como na significativa descida da abstenção de 46,7% para 40,13%.
Sem surpresas, se consideradas as circunstâncias que afastaram o PSD do poder em 2017, o Partido Socialista venceu em toda a linha para a Câmara e para a Assembleia Municipal e para 9 das 13 freguesias e uniões, saindo a Aliança Democrática vitoriosa em 3 freguesias, duas delas diversas das que detinha. Ainda assim, as percentagens alcançadas pelos socialistas no órgão executivo e deliberativo denotam uma quebra que não passa despercebida. Com a conquista pelo Chega de um vereador na Câmara e três deputados na Assembleia Municipal, percebe-se que se deve, em boa parte, a esta força em ascensão a perda de votos do PS. Mas não só.
O PS partiu para este ato eleitoral com a habitual maior intensidade de ação de fim de mandato e com alguns trunfos nas obras que conseguiu concluir, carregando simultaneamente algum desconforto nos emblemáticos projetos que não conseguiu ver chegados ao fim, alguns idealizados no primeiro mandato. Provavelmente o presidente agora reeleito não terá hesitado em avançar para o terceiro mandato – situação inédita em Oliveira de Azeméis no pós 25 de Abril – porque sentiu essa necessidade de concluir o que foi prometido e não conseguido em oito anos. Em campanha eleitoral, Joaquim Jorge enfrentou ainda ataques movidos a partir de vários ângulos, muitos com a parcialidade de quem, na política ou na vida privada, não chegou onde queria, alguns mais fundamentados e de cara descoberta, outros escondidos atrás de perfis falsos… Tudo terá contribuído para um desgaste que se acentua com o tempo ao longo das carreiras políticas.
Na Assembleia Municipal, órgão menos vulnerável ao desgaste político, a “culpa” estará no efeito Chega que fez reduzir a distância entre o número de eleitos do PS (13) e da AD (11). Aqui a maioria do Partido Socialista está garantida pelos seus presidentes de Junta, em número substancialmente superior.
Com maior ou menor surpresa, as Assembleias de Freguesia ficaram maioritariamente e de novo nas mãos do PS. As exceções são Loureiro, na continuidade, Nogueira do Cravo que regressa às mesmas mãos após a desagregação da União e Cucujães cuja nova presidente já “morava na casa”, como colaboradora, há décadas. Em Cesar, a tradição das listas independentes para a Junta, mesmo mudando os protagonistas, ainda é o que era, com apoio declarado dos principais quadrantes.
Pode dizer-se, em suma, que os oliveirenses votaram serenamente na continuidade mas atentos ao evoluir dos tempos, das pessoas e das suas propostas, contribuindo para um estado de graça que vai agora para o terceiro mandato.
Estas são as eleições em que menos pesam as ideologias, sobrepondo-se o peso das personalidades e a forma como se impõem. Por cá como no resto do país. Nas freguesias mais do que nos órgãos municipais o conhecimento pessoal que as pessoas têm dos candidatos é fundamental. Daí o sucesso mais frequente das recandidaturas, desde que os candidatos “se portem bem”. Assim aconteceu em quatro freguesias; em mais três foram bem aceites os sucessores do mesmo partido daqueles que se retiraram sem atingirem o limite. O resto são surpresas (ou talvez não) que só confirmam o que digo ao início do parágrafo – o peso das candidaturas.
Nos órgãos municipais, não havendo a mesma proximidade e disponibilidade que os fregueses têm com o seu presidente que procuram em casa, é o peso dos líderes – nomeadamente para a Câmara - que é determinante. Nas vitórias que leva, Joaquim Jorge impôs-se pelas circunstâncias, por mérito e também por algum demérito de quem o defrontou. O futuro dirá se daqui a quatro anos o Partido Socialista tem candidato à altura para lhe suceder, continuando a hegemonia ou se o PSD (ou a AD) renasce das cinzas e consegue um candidato para voltar ao poder. Outras alternativas, francamente, não vejo.
Albino Martins