O 28 de setembro de 1974 em Oliveira de Azeméis

Opinião

> José Brandão de Sousa

No passado dia vinte e oito de setembro completaram-se cinquenta anos sobre um acontecimento que marcou profundamente toda a evolução política do 25 de Abril. Mas já lá vamos.
Numa altura em que se anda por aí à cata de datas para comemorar, alguns, talvez saudosos de um outro “28”, podiam aproveitar esta…
O 25 de Abril tinha acontecido há cinco meses. O presidente da República era o general Spínola. Para Spínola, as coisas não decorriam a seu gosto. O aparelho do estado fascista estava a ser desmantelado (aquilo de desativar a PIDE/DGS e libertar os presos políticos talvez tenha sido uma precipitação), a descolonização estava a andar muito depressa (como se, após treze anos de guerra, fosse possível andar devagar) e, por todo o lado, desenvolviam-se atividades (criação de sindicatos livres, comissões de trabalhadores, ocupação de casas devolutas, organização de partidos políticos, etc.) estranhas ao paladar político de um austero militar (e militarista!) de cavalaria!
Havia que corrigir. Havia que passar à ação!
Fingindo ignorar uma entidade chamada MFA - Movimento das Forças Armadas (que tinha planeado e levado a cabo a Revolução e que tinha um programa para cumprir) e que era incontornável nas tomadas de decisão a alto nível, Spínola quis fazer uma revolução na rua. Inventou uma “Maioria Silenciosa” que, com grandes meios, convocou uma manifestação de apoio a si próprio, para o dia 28 de setembro na Praça do Império, em Lisboa. Lembra-se que a Praça do Império fica mesmo defronte do Palácio de Belém…
A historiadora Irene F. Pimental refere no seu livro “Do 25 de Abril ao 25 de Novembro”, citando um estudo biográfico de Spínola, que se tratava de “uma tentativa de reforçar os poderes do general, pela declaração do estado de sítio, na sequência de uma manifestação popular apelando ao Presidente da República”. A ideia de Spínola era, assim, reforçar significativamente o seu poder e anular o MFA. Não se tratava de uma revolução, era, mesmo, uma tentativa de contrarrevolução. 
O general apelava à chamada “Maioria Silenciosa” (o que quer que isso fosse!) para que se manifestasse. Cartazes e folhetos, de sinistra estética, foram espalhados pelo País. Organizaram-se transportes vários (quem pagava?) para levar pessoas para a manifestação.
As organizações democráticas (comissões de trabalhadores, comissões de moradores, associações diversas), os sindicatos e militantes dos partidos antifascistas perceberam os objetivos e o perigo de tal iniciativa e, na noite de 27 para 28 de setembro, sob a palavra de ordem “A reação não passará!”, mobilizaram a população para, por todo o País, erguer barricadas e impedir a realização da manifestação spinolista.
Estas barragens populares, estes piquetes de vigilância, levantados com especial incidência nas vias de acesso a Lisboa, visavam alertar as pessoas para o golpe de Estado em curso e esclarecê-las sobre as verdadeiras intenções dos organizadores da manifestação.
Em Oliveira de Azeméis, foi constituída, logo na manhã do dia 28, uma barragem na Estrada Nacional Nº 1 (a EN 1 ainda passava pelo centro da vila), no sentido norte-sul, junto às bombas de combustível do Auto-parque. Este piquete era constituído por muitas pessoas que se revezavam, garantindo, em permanência, um efetivo de unss quinze a vinte elementos. Viam-se populares, sindicalistas, ativistas, militantes e simpatizantes de partidos antifascistas, nomeadamente do MDP, PCP, PS, MÊS e LCI.
As viaturas eram mandadas parar e os seus ocupantes informados e esclarecidos de forma civilizada e pacifica sobre o objetivo da ação e eram-lhes entregues folhetos informativos das organizações políticas. Nalguns casos, quando havia suspeita da existência de armas, foi pedido aos condutores para se inspecionarem as bagageiras das viaturas.
Segundo o Correio de Azeméis de três de outubro daquele ano, todas as ações decorreram de forma calma, mas firme, tendo havido apenas uma provocação de alguém que resolveu chamar a GNR. Os militares desta corporação compareceram, mas a vigilância não abrandou até ao fim do dia 28, não se tendo registado qualquer incidente. A manifestação não se realizou.
O Povo compreendeu, então, que não podia confiar totalmente no poder. Se queria erradicar o fascismo, teria de tomar parte desse trabalho nas suas próprias mãos. Como terminava o citado artigo do Correio de Azeméis, o Povo tinha de estar “atento e vigilante”. Como, ainda hoje, deve continuar a estar!?

José Brandão de Sousa, Colaborador

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