26 Jan 2022
Há momentos em que o desejo se faz vingativo
E os nossos corpos entram em erupção,
E infligem-se sofrimento por puro prazer,
Até a dor nos estender a mão.
Às vezes, por nossa própria decisão,
Envolvemo-nos em perfumes difusos
E confundimos tudo;
E as nossas vozes
Prestam tributo à tristeza,
E achamo-nos a ter razão
Quando gostaríamos de não ter;
E tudo fica estranhamente parado.
Convocamos o silêncio
Mais uma vez, e mais uma vez
O silêncio se recusa,
Apesar de agora se fazer ouvir…
Esperamos que o momento
Nos faça felizes,
E ficamos prontos para assumir
As consequências!
Afinal, sempre aqui estivemos…
Os ruídos, para lisonjear a tristeza
Ou para a disfarçar, fazem-se duráveis
De excessivos. A nós não nos dizem
Nada de novo…
Deixa cá ver se ainda estamos vivos,
Quando a madrugada nos surpreender!
António A. M. Carneiro, in “Peço ao vento
que acelere o grito”