Em
Correio de Azeméis

4 Jul 2023

Politicamente (In)Correto

Helena Terra

Cada dia que passa, confesso, estou mais farta do “politicamente correto”.
Acho que todos os politicamente corretos nascem de exercícios de hipocrisia de pessoas com grandes complexos de superioridade e que precisam de inovações linguísticas para esconder atitudes discriminatórias com as quais convivem mal.

Uma das grandes qualidades da língua portuguesa é a sua riqueza de vocabulário e o facto de ter vocábulos que, só por si, transmitem emoções, ambiências próprias e, simultaneamente, atitudes pessoais de todos os que os usam.
A linguagem “politicamente correta” tem vindo a fazer uma “higienização e assepsia” da língua que a faz perder valor significativo e sentimentos, tornando-a tão fria que a mesma começa a perder identidade e carisma.
Hoje não existem velhos, existem seniores. À partida dir-se-ia que velho e sénior são sinónimos e, do ponto de vista da etimologia da língua, sê-lo-ão, mas o valor e as particularidades de uma língua resultam, não só do seu valor etimológico, mas do uso que dela se faz. Pois bem, olhando deste ponto de vista, velhos e seniores não são sinónimos.
A palavra velho permite o diminutivo masculino, feminino, singular e plural; velhinho, velhinha, velhinhos ou velhinhas. Tal não se conhece em relação à palavra sénior.
Ora, como sabemos e resulta do uso diário da nossa língua, desde tempos imemoriais, o diminutivo de um nome é usado para demonstrar afeto, carinho, proximidade afetiva ou, até mesmo sentimento de proteção e cuidado.
Sénior é um conceito, mais ou menos geral e abstrato, usado para rotular pessoas; os que atingem a idade legal da reforma, os que já não têm aptidões para algumas práticas, os que, por via disso, obtém algumas vantagens económicas que um sistema previdencial, cada vez menos redistributivo e mais cego lhes confere.
Desde pequena, fui educada a respeitar os mais velhos e aconselhada a aprender com eles. Os que atingiram tal idade e me eram próximos, sempre os tratei e senti como velhinhos e também tratei e senti como velhinhos, aqueles que, tendo atingido provecta idade, e eram merecedores de especiais cuidados e atenções.
De mim, espero atingir e preencher o conceito legal de sénior, mas quero chegar a velha e, pelo menos apara alguns, chegar a velhinha.
Dou graças pelo facto de os meus avós, apesar de já cá não estarem, terem morrido velhinhos e vivo com o sentimento amargo de a minha mãe não ter, sequer, chegado a sénior.
  * Advogada

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