20 May 2024
> Ricardo Bastos
Na minha qualidade de Voluntário no Hospital, encontrei um amigo que está internado há já vários meses.
Esse amigo confidenciou-me a certa altura «Ricardo, ontem tive um dos maiores prazeres da minha vida, ontem tomei banho de chuveiro pela primeira vez em muitos meses. Que prazer... que prazer»...
Desde então estas palavras não deixam de me martelar os pensamentos. Nós que damos tudo como certo, que damos tudo como adquirido, que damos tudo como um direito que temos, não sabemos nem valorizamos o quanto de bom temos como hábitos normais no dia-a-dia sem lher dar o devido valor. Dizia o amigo que estremeceu de prazer ao sentir a água a correr pelo corpo, a bater com a força do jato na cabeça, o ter de fechar os olhos mas abrir a boca para que a água entrasse de forma agradável. Sentia a água morna, mas se fosse fria o prazer seria o mesmo, a escorrer pelo peito e virilhas até pingar em abundância nos pés até desaparecer pelo ralo do polibam.
Aquela água tranportava vida, deu-lhe vida. Mais, aquela água injectou nele ainda mais vontade de continuar a lutar contra a doença e voltar a ter tudo a que tem direito desta vida.
O desafio é muito simples: viver cada momento com tudo o que ela tem de mágico. Viver cada momento com todos os prazeres das coisas pequenas e simples. Viver cada momento como se tudo fosse acabar no momento seguinte. Se conseguirmos fazer este exercício, seremos pessoas muito mais felizes, tolerantes, solidárias, agradecidas, muito mais Pessoas, em suma.
As gotas de água são todas iguais, mas nós podemos fazer com que cada uma delas seja especial, tenha um significado nobre. A vontade, sensibilidade e decisão está em cada um de nós.
As melhoras amigo, volta que cá te esperamos para mais vida e se for caso disso, passear à chuva. Obrigado pelo ensinamento.
Estamos juntos...
Ricardo Bastos, Organizador das ‘Corridas Solidárias’