28 Jan 2025
O Correio de Azeméis foi falar com Manuel da Silva Tavares (à esq.), 93 anos e Manuel Oliveira Tavares (à drt.), 73 anos, pai e filho respetivamente, dois ulenses que relembraram o que eram as festas de antigamente.
> O significado das Festas de S.Brás para os ulenses
Naquelas que são das festas mais antigas do concelho, com histórias que remontam há cerca de 300 anos atrás, são muitas as histórias de ulenses sobre as Festas em Honra de Nossa Senhora das Candeias e de S. Brás.
O Correio de Azeméis foi falar com Manuel da Silva Tavares, 93 anos e Manuel Oliveira Tavares, 73 anos, pai e filho, respetivamente, dois ulenses que relembraram o que eram as festas de antigamente.
“Não fazer o S.Brás é como um jardim sem flores”. “Desde que tivéssemos banda de música, o coreto com as bandeiras, o fogo de artifício e mais uma ou outra coisa que era necessária, a festa estava feita. (…) Para mim, o não fazer o S. Brás era como não ter água ou luz. Como ulense, o não se fazer a festa é como um jardim sem flores, uma coisa triste”
Manuel Oliveira Tavares, ulense
“Saudades de haver aquele fervor em todas as pessoas”. “Saudades de haver aquele fervor em todas as pessoas. Geralmente a mocidade, filhos de padeiros e assim, estreava, geralmente no segundo dia, a roupa, porque no primeiro dia era uma falange grande de gente e eles iam estar a trabalhar. (…) Havia muito mais bairrismo, hoje não há”
Manuel da Silva Tavares, ulense
As memórias. “A minha mãe, durante muitos anos, montava uma barraca, que naquele tempo ainda era barras de clipes (…) chamava-se a casa da senhora Zulmira, mais tarde a casa da Amélia do Moinho, que fazia o favor de nos deixar estar em frente à casa, e então assava-se lá, preparava-se carne assada, e até no forno da senhora, era uma loucura. (…) A Lurdes, a padeira, fazia o favor de deixar lá montar umas mesas, mesas essas que era para as pessoas também comerem o farnel que traziam. Via-se o panorama do arraial à distância e aquilo era um coração cheio, como dizia a minha mãe”
Manuel Oliveira Tavares, ulense
A gazeta e os comboios. “Na altura, os estudantes era a gazeta certinha. Havia comboios especiais, era de arrasar. Havia controle de quem vinha, se vinham de graça. Alguns, não sei se escapariam, mas aquilo era perigoso, naquela altura era muito perigoso andar na linha”
Manuel Oliveira Tavares, ulense
Os santos doados. “Houve um ano, isto se calhar há mais de 30 anos, que um senhor, um emigrante ulense, que deu dois santos, um de S. Brás e um da Nossa Senhora das Candeias, da altura do homem. Ou seja, se estes que estão lá agora na procissão são boas imagens, as outras eram maiores, eram da altura deles”
Manuel Oliveira Tavares, ulense
As promessas a S.Brás. “Eu tenho um caso curioso que foi da Comissão de Festas. Havia um senhor que era cego de uma vista. E era um homem com uma dificuldade enorme de viver, porque vivia do trabalho de enxada, mas trabalhador e honesto e então como ele era cego de uma vista, dizia assim: eu dou a minha esmola para o S. Brás, dentro da minha possibilidade, porque Deus tapou-me um olho e eu fiquei com o outro. Se me tapar o buraco [boca] eu fico sem nenhum. Então contribuía sempre para a festa. Se calhar aqueles 10 ou 20 escudos naquela altura faziam-lhe falta, mas a fé dele no S. Brás era radical”
Manuel Oliveira Tavares, ulense
A tradição nos mais novos
“Há que dar força a esta malta que se põe a fazer coisas bonitas e o melhor disso tudo é as pessoas, da freguesia e nem só, participarem nas cerimónias, na festa e na procissão. (…) Depois a procissão é muito bonita, vêm os miúdos da escola, a maior parte deles vestidos de moleiro. Por exemplo, os meus netos vão sempre vestidos de moleiro”
Manuel Oliveira Tavares, ulense
“Para mim, não fazer o S. Brás era como não ter água ou luz. Como ulense, não se fazer a festa é como um jardim sem flores.”