Selvagens à solta!

António Magalhães

A estrada do Caima, com início na sede do concelho, chegou ao Rio Caima, em Palmaz, mais propriamente à chamada fábrica velha, então moderna unidade fabril dedicada a tecelagem, no ano de 1899. Agonizava o século XIX.

Estavam rasgados 9250 metros. De acordo com o projecto inicial, a nova via seguiria até Vale Maior, a ligar à estrada que de Albergaria-a-Velha segue para Viseu. Mas era vultuoso o custo da ponte sobre o Caima… e cessavam as influências, satisfeitas que estavam as legítimas aspirações da empresa, onde pontificavam vultos grandes da vida política de então. 
Por outro lado, atendidas também as súplicas das paróquias de Macinhata, Travanca e Palmaz, que, como pode ler-se numa petição dos meados do século XIX, estavam “segregadas do mundo pelos ínvios tratos das fragas e penedias que constituem as serras onde estas freguesias estão encravadas, mal se podendo explicar a negligência das autoridades municipais e do distrito.” 
A estrada conduziria ao decisivo progresso da zona sul do concelho, decisiva ainda para a implantação da extinta Fábrica de Papel do Caima, de nível internacional, naturalmente geradora de riqueza e de progresso, não podendo esquecer-se que, à sua sombra, nasceu ali, em Palmaz, o nosso ensino técnico.
Na década de sessenta do passado século a estrada beneficiaria de profundas obras de reparação e beneficiação geral, longe vão os tempos em que as famílias tinham vagar e interesse num passeio domingueiro por ali, gozando as belezas de uma paisagem, lá longe, até a Ria, a sombra do arvoredo, mais o cenário das cerejeiras floridas que, salvaguardadas as distâncias, alguns compararam às amendoeiras algarvias.
Mas não há bela sem senão. E também aqui tem lugar o velho aforismo. Na travessia de Macinhata, mil e quinhentos metros da estrada foram recentemente esventrados porque assim foi exigido pelas obras de construção da rede de saneamento. Quantos, e foram muitos, reclamaram a chegada desta obra, aceitam, naturalmente, os inconvenientes e os sacrifícios. E a garantia é que, após a necessária compactação, chegará em breve a reposição do pavimento. Assim se espera.
Abundante sinalização e semáforos improvisados têm recomendado a prudência no trânsito, naturalmente a redução de velocidade. De resto, mesmo sem obras, a existência de um povoado contínuo exige essa moderação, que, na verdade, muito poucos respeitam.   
A estrada do Caima tem hoje enorme trânsito. Sabe-se que Macinhata, Palmaz e parte alta de Travanca não criaram, nem de longe, suficientes postos de trabalho, pelo que todos os muitos ali residentes os procuram na zona da cidade ou subúrbios. Nas chamadas horas de ponta o trânsito é imenso, praticamente contínuo, mas o estado do piso não altera os hábitos enraizados dos “aceleras”. Prego ao fundo, parece que gozando com as nuvens de pó que oferecem aos residentes, mais os saraiveiros de gravilha e areão grosso que projectam para os peões, alguns deles mães que conduzem os filhos até ao infantário. 
Não tenhamos medo das palavras. Os prontuários e os dicionários da língua portuguesa são unânimes em classificar de selvagem o insociável, aquele que não respeita as mais básicas regras da convivência em sociedade. Pelo que, se na estrada do Caima circulam, felizmente, cidadãos civilizados, emporcalham os pelotões alguns “selvagens à solta”… 
(Escrito de acordo  com a anterior ortografia)
 

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