10 Feb 2025
Helena Terra Opinião Opinião Política
> Helena Terra
No último ano comemorámos 50 anos sobre o 25 de abril. Uma data inesquecível para todos os que tiveram experiência da vida antes disso. Enormes são as diferenças no antes e no depois de abril de 1974.
Em nome da honestidade intelectual há que dizer que um enorme caminho foi trilhado nos últimos 50 anos. Foram muitas as conquistas nas mais variadas áreas das nossas vidas. Seja nas liberdades e garantias dos cidadãos, na educação, na saúde, nos direitos sociais em geral e também na economia. Portugal hoje está plenamente integrado no espaço comum europeu, apesar de se situar na cauda desse grupo.
Antes de abril de 74, vivíamos na clausura do medo de uma polícia política que prendia sem culpa nem julgamento. Eramos vistos como um país pobre e rural, mesmo por aqueles que nascem da nossa “colonização” quinhentista na qual demos novos mundos ao mundo para, nos anos da ditadura, vivermos “orgulhosamente sós” orientados por desígnios de pobreza desconhecimento e sacrifício; cultores forçados de uma ruralidade sem horizonte à vista.
Entretanto, quando comemoramos tantas e tão grandes conquistas percebemos, nas palavras e nos desabafos de alguns, o desalento e alguma desilusão que se torna chão fértil para fazer crescer adeptos de discursos propagandísticos e panfletários que apenas prometem a negação das principais conquistas da Revolução dos Cravos.
É minha convicção que este desalento de alguns e o arrojo populista de outros têm a mesma origem. A crise ética na qual, em geral, mergulhámos. A ética é indispensável à existência do homem, enquanto ser social e relacional. É como uma espécie de guia que conduz a nossa vida coletiva. Ora, se nos falha este guia somos tomados pela desconfiança e pela insegurança que nos pode fazer cair em tentações securitárias muito perigosas.
Na vida política, daqueles de quem esperamos que sirvam a causa pública despojados de ambições inconciliáveis com o bem comum, assistimos aos maiores dislates e a comportamentos absolutamente indecorosos.
Nos serviços públicos em geral, mas na área da saúde me particular, são inúmeros os prestadores de cuidados a serem agredidos diariamente pelos usuários desses serviços.
Na escola assistimos há poucos dias a imagens chocantes de violência gratuita de um aluno sobre outro aluno que, já no chão, e sem reagir, continuava a ser brutalmente agredido por um dos seus pares, com os outros a “assistir de bancada” e a filmar a cena.
Também na escola, mais de metade dos professores confessa já ter sido agredido, quer por alunos, quer por pais. Da mesma escola chegam-nos relatos diários de violência no namoro entre adolescentes. Ora, o importante na escola não é só estudar, é também criar laços de amizade e convivência. A escola tem de ser um espaço de segurança e partilha.
No século XIX um ministro da educação francês disse, “quem abre uma escola fecha uma prisão.”
Estamos a precisar de um sobressalto ético, que traga de volta o nosso guia de vida coletiva. E, se é certo que a palavra comove ou demove, apenas o exemplo arrasta e nos devolve o nosso guia coletivo.
Helena Terra, Advogada