1 Aug 2022
Helena Terra *
Para quem não sabe sou, há mais de 20 anos, militante do partido socialista português. Já estive na chamada política ativa. Já passei por todos os patamares da vida autárquica aqui no concelho, diga-se que, sempre na oposição, mas em todos os casos como líder, exceto, sensivelmente, os dois primeiros meses do meu mandato como vereadora. Já fui deputada da AR e vice-presidente daquele que era, ao tempo, o meu grupo parlamentar. Até já fui candidata a presidente da Câmara Municipal, mas o povo, que é soberano, preferiu o outro candidato, Hermínio Loureiro. Hoje, estou retirada da chamada vida política ativa por opção própria. Isto para que se perceba, a tristeza e expectativa de que vos vou falar a seguir.
A minha expectativa, quando em janeiro deste ano fomos a eleições, era que o país tivesse uma maioria absoluta que desse, a quem fosse eleito, condições de estabilidade, governabilidade e poder de decisão, naturalmente dentro do quadro e das regras democráticas. Isto porque a geringonça já tinha dado o pouco que tinha a dar e porque, o país estava farto das políticas de nicho eleitoral e sedento de políticas que, seriamente, se preocupassem e resolvessem os problemas do dia a dia dos portugueses.
Pois bem, foi isso mesmo que os eleitores manifestaram nas urnas no dia 30 de janeiro, a escolha de um governo que possa fazer as reformas que é necessário fazer; que estabeleça uma nova ordem de prioridades na agenda política, deixando as ditas questões fraturantes para o BE e o discurso estafado dos trabalhadores versus o grande capital para o PCP. Destes, os primeiros, tentando a sua sorte em alguns meios urbanos e junto de umas novas “elites” a quem, paradoxalmente, ninguém atribui preponderância e, os segundos que, estando perto do desaparecimento, aguardam a notificação do seu fim, não poupando a isso, sequer, o seu líder Jerónimo de Sousa, sendo certo que ele merecia esse gesto dos seus camaradas, o de o pouparem a presidir a uma qualquer “comissão liquidatária”.
No que toca à restante oposição, o CDS deixou de ter lugar no parlamento a IL, procura novos públicos que até há uns anos atrás com facilidade enfileiraria na JC, ou na JSD, mas que, hoje, vê na IL um discurso de direita liberal, mas mais arejado. O CHEGA, é o que é. Dá voz à rua não organizada, porque esta continua controlada pelas duas maiores centrais sindicais, aumenta e leva para o parlamento, a voz dos palpiteiros de esquina e ideias não tem nenhuma, portanto, com o tempo, mas não só, o seu eleitorado voltará para o partido de onde veio o PSD. O PSD, esse continua à procura de um rumo, tentando variar entre o liberalismo económico e a social democracia, mas ainda sem Norte e, sobretudo com uma oposição parlamentar muito fraca.
Depois da expectativa vêm a tristeza. Meio ano volvido, o governo não nos revela um único projeto estruturante novo. Tem à frente dos ministérios, em alguns, gente muito bem preparada técnica e academicamente, mas sem nenhuma preparação política. O Ministro politicamente mais bem preparado deste governo, capaz de tomar decisões e executá-las, vê o chefe, a tirar-lhe o tapete e ao qual este cede até ao último folgo da solidariedade institucional, que não creio que chegue até ao fim. O país precisa de um novo aeroporto e não Portela mais um. Já pensaram na localização atual do aeroporto da Portela? Quantas pessoas (bato na madeira) vão ter que morrer para que se perceba o atual anacronismo daquele aeroporto?
E a ferrovia? Ela que é o futuro do meio de transporte, a todos os níveis para distâncias até 1 000Km? E o comboio de alta velocidade até Madrid que complete a parte que a Espanha já fez?
Já ultrapassei, em muito, os caracteres que me estão disponíveis, prometo voltar ao tema.
* Advogada