5 Sep 2023
Albino Pinho *
Alguém disse um dia que quando os marcos divisórios, ou falta deles, é no meio da natureza ainda se vai tolerando. Mas quando a dúvida passa para a parte urbana as coisas começam a complicar-se. Foi isso que aconteceu nos anos 60 entre Fajões e Cesar, que gerou uma longa história. A culpa foi de alguns marcos que foram desaparecendo, numa determinada parte das duas paróquias, à medida que ia aumentando o casario, e quando se deu por ela já ninguém sabia de que terra era.
Depois de alguns anos de apaixonantes debates, finalmente alguém impôs, ou decidiu, dar o veredito final em 1968. Para não excluír alguns bairristas mais radicais da época de um dos lados, lá foram colocados, assim tipo {a la carte] novos marcos aos zig zags de forma a ficarem do lado pretendido.
Não creio eu, nem a maioria, que o pessoal da Abadessa do convento da Avé Maria do Porto no ano de 1672 encarregue da colocação dos marcos para delimitar as duas paróquias tenha utilizado a mesma técnica de curvas e contra curvas em tão pouco espaço. Tendo em conta os marcos vizinhos originais que sobreviveram, a lógica e o traçado foram bem outros. Mas é o que foi acordado, ou imposto e desde então passou a oficial para ser respeitado pelos dois lados.
No entanto, passados 55 anos ainda há uma pequena minoria de um dos lados, talvez a que foi mais beneficiada, que infelizmente continua a pensar que ainda está do lado oposto. Fazem parte desse lote algumas empresas, algum pequeno comércio artesanal e até algumas pessoas singulares.
O recente anúncio da implantação de mais uma superficie comercial, mesmo encostado a essa nova linha divisória, está a dar sinais de que afinal os velhos fantasmas doentios de fronteira, que muitos julgavam esquecidos e enterrados, podem estar de volta. É pena, porque as duas terras tem excelentes relações a todos os níveis, e não será meia dúzia que irão pôr isso em causa. Cabe às autarquias, com câmara incluída, trabalharem, antes que haja mais ruído, para reporem a legalidade, e afastar velhos fantasmas que, parece, foram transmitidos de pais para filhos.
Que sosseguem os comentadores e críticos de café, que não vai haver qualquer guerra de fronteira, nem volta ao passado, o que vai, ou deve haver, é maior responsabilidade e diálogo.
* Leitor Correio de Azeméis, de Fajões