25 Mar 2024
Bruno Aragão *
Não sei se, como dizem, vivemos tempos novos. Só quando olharmos para trás o reconherecemos. O que sabemos é que vivemos tempos de simplificação política. Respostas simples para realidades que são, muitas vezes, complexas. Daniel Innerarity, um dos grandes filósofos políticos contemporâneos, disse-o com muita limpidez, “esta prática política beneficia aqueles que se mexem melhor no combate pela simplificação, mesmo que daí não resulte nenhuma clareza e até saia dificultada a inteligibilidade daquilo que está realmente em jogo”.
É ao que temos assistido na última semana, por muitos partidos, sobre o famoso excedente orçamental que, sendo histórico, nos tolda um pouco a visão. E talvez para nós oliveirenses, que vivemos cerca de 12 anos sobre um terrível Plano de Saneamento Financeiro, e ainda sentimos as consequências desses anos, talvez esta semana permita uma boa reflexão.
Portugal tem um excedente orçamental, é um facto. E tem muitas necessidades de investimento, também é um facto. O que não faz sentido é olhar para esse excedente com se fossemos novos-ricos. Parece uma discussão tonta, a ver quem gastará mais e mais depressa, procurando responder a necessidades reais e complexas e que, por isso, precisam de respostas também complexas.
Compreender as dificuldades das pessoas e a melhor forma de as ultrapassar, implica muitas vezes respostas nem sempre fáceis. Temos um excedente orçamental, mas continuamos com uma dívida que importa pagar. Conseguimos o esforço de deixar de estar no grupo dos países mais endividados, mas temos ainda um caminho exigente. Nunca o esqueçamos, mesmo que não seja fácil assumi-lo.
Tal como em Oliveira de Azeméis. Sofremos mais de 12 anos com uma dívida que deixou consequências difíceis. Fazemos hoje investimentos, como nas redes de água e saneamento, que devíamos ter feito há anos. Pagamos uma das águas mais caras por conta dessas opções. Podemos já não falar desse plano, mas não passamos a ser ricos só porque gerimos melhor.
* Presidente da Comissão Política Concelhia do PS