150.º aniversário da Escola Conde Ferreira

Concelho

“Convencido de que a instrução pública é um elemento essencial para o bem da sociedade, quero que os meus testamenteiros mandem construir e mobilar cento e vinte casas para escolas primárias de ambos os sexos nas terras que forem cabeças de concelho, sendo todas por uma mesma planta e com acomodações para vivenda do professor, não excedendo o custo de cada casa e mobília a quantia de 1.200.000 réis; e pronta que esteja cada casa, será a mesma entregue à Junta de Paróquia em que for construída.” Esta é, naturalmente, a disposição de maior relevo do testamento de Joaquim Ferreira dos Santos, Conde de Ferreira, lavrado no dia 15 de Março de 1866. O benfeitor morreria nove dias depois e a data de 24 de Março de 1866 perpetuaram-na na frontaria dos cento e vinte edifícios escolares. Oliveira de Azeméis beneficiaria do edifício ainda hoje em funções e o primeiro construído de raiz para o efeito na vila de então. Logo que conhecidas as disposições testamentárias, a Câmara Municipal, então presidida pelo Visconde de Santa Maria de Arrifana — um esquecido vulto a quem tanto devemos — apressou-se a anunciar a candidatura, referindo como principal argumento a não existência de qualquer edifício. Na sessão de 24 de Janeiro de 1867, o presidente informou ter recebido uma circular do testamenteiro em que este acusa a recepção do pedido e são aceites o legado e o compromisso da construção de uma escola de instrução primária, segundo a planta que lhe foi remetida pelo Governador Civil do Distrito, conforme circular de 22 de Setembro de 1866. Seria devidamente mobilada para a capacidade prevista de 48 alunos. A obra foi a concurso e adjudicada a Manuel José de Carvalho Júnior. Em 8 de Julho de 1871, a Câmara deu-a por concluída, autorizando a transferência das actividades escolares para a nova casa. Mais, deliberou prestar um testemunho público de gratidão ao benfeitor, e, assim, foi aprovado o sufrágio da alma do Conde de Ferreira na Igreja Matriz, pelas oito horas da manhã do dia 13 de Julho desse mesmo mês. Missa presidida pela Abade João José Correia dos Santos, o decisivo e inesquecível promotor do culto a Nossa Senhora de La Salette; concelebraram os clérigos do concelho, participando a Câmara e seus empregados, professores e alunos, autoridades judiciais e da Conservatória e da Fazenda. Através de editais foi convidada a população a associar-se ao piedoso acto. Dia grande na nossa provinciana vila! Há precisamente 150 anos! Evoquemos a memória de tantos e tantos dedicados professores que por ali passaram, a esmagadora maioria com remuneração humilhante; também sucessivas gerações de crianças que ali iniciaram o percurso da vida e, nas mais diversas áreas, nas honrosas profissões, na indústria, no comércio, na governação, nas ciências, nas artes, na fé, ergueram a realidade que somos hoje. A escola foi construída na zona central da vila, na chamada Praça dos Vales, onde se realizava o multissecular mercado semanal, dos mais concorridos da região, carreando gentes desde a serra à beira-mar. Aproximadamente onde hoje vemos o Palácio da Justiça. Face ao desenvolvimento do mercado e à necessidade de maior espaço, a Câmara Municipal deliberou, na sessão de 23 de Janeiro de 1900, propor a remoção do edifício para local mais adequado, decidindo pedir autorização ao Comissário da Instrução Primária. Obtido parecer favorável, a Câmara deliberaria na sessão de 1 de Maio a remoção da escola para o local da chamada Feira dos Onze, onde ainda se encontra em funções. Foi respeitada, na medida do possível, a arquitectura do edifício, mantendo-se, com todo o rigor, a frontaria principal. Mas a residência do professor não foi reposta. O tema sugere-me duas breves reflexões: - A escola deveria abandonar a designação burocrática de EB 1, e, muito legitimamente, ver aprovado oficialmente o nome de Escola Conde de Ferreira, como a “história” local de há muito consagrou e resiste pelo país fora. A designação fria e genérica de nº 1 faz-me lembrar, com todo o respeito, o tratamento que nos era concedido a todos na caserna, esquecendo-nos o nome, como por certo recordam quantos por lá passámos. - Entre a concessão dos 1.200.000 réis e a inauguração da escola decorreram quatro anos e meio. Um grande êxito, um grande exemplo para os tempos de hoje, se recordarmos que não havia computadores, nem gruas, nem betoneiras, nem cimento, os materiais eram transportados, de longe, em carros de bois, a generalidade dos trabalhadores não sabia ler. O masseiro da cal viajava à cabeça dos serventes, por via de regra crianças de pés descalços. Não houve derrapagens nos custos nem no prazo, nem conflitos com o empreiteiro. (O autor escreve segundo o antigo acordo ortográfico)

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