50 Anos da palestra de Ferreira de Castro em Oliveira de Azeméis

Opinião

José Brandão e Sousa *

No próximo dia 7 de julho completam-se cinquenta anos sobre a data da realização da palestra que o escritor Ferreira de Castro proferiu, pelas 21:30 horas daquele dia, no ginásio da Escola Industrial e Comercial de Oliveira de Azeméis. Esta terá sido, talvez, a única palestra proferida por Ferreira de Castro na sua terra.

Nos primeiros dias do mês de julho de 1973, Ferreira de Castro, acompanhado de sua esposa, Elena Muriel, e do escritor brasileiro Jorge Amado visitou Oliveira de Azeméis e Ossela, num programa delineado pela ARCA – Associação Recreativa e Cultural de Azeméis. 
Estas ilustres personalidades visitaram, na vila, o Parque de La-Salette, o monumento de homenagem ao Emigrante, a Biblioteca Ferreira de Castro, instalada no edifício destinado ao Museu Regional de Oliveira de Azeméis, doado pelo benemérito João Marques de Carvalho. Foi nesta ocasião que Ferreira de Castro doou a Oliveira de Azeméis o manuscrito de “Emigrantes”. Aliás, parte deste importante documento esteve exposto ao público, na vitrina da Casa-Museu Regional de Oliveira de Azeméis, como Objeto do Mês, durante o passado mês de maio. Naquele périplo, foram cicerones os diretores da ARCA, Dr. Miguel Castro, Padre Manuel Pires Bastos, Miguel Ângelo Barreiro, Sebastião Almeida e outros ativistas daquela associação.
A ARCA tinha convidado Ferreira de Castro a proferir uma palestra com um tema à sua escolha. Inicialmente, o escritor escolheu o tema “A literatura na evolução do Homem.” 
No próprio dia da palestra, a Secção Literária da ARCA publicou um bem elaborado suplemento do jornal Correio de Azeméis, sob o título genérico “A Terra e o Homem” integralmente dedicado ao escritor e à obra de Ferreira de Castro.
Entretanto, o tema da palestra foi alterado pelo próprio escritor, passando, na realidade, a ser “As Ideias Feitas e a evolução do Homem”. 
Numa “conversa simples, franca, linear” (como relatou o Correio de Azeméis), que durou duas (breves!) horas, o palestrante explicou que a luta é a única maneira de as novas conceções vingarem sobre as velhas (as tais “Ideias Feitas”). E que, tal processo, acarreta aos que lutam pelas novas ideias “a perseguição e o martírio”. E deu exemplos da História Universal: as perseguições da Inquisição (citando o caso de Joana D´Arc), a luta dos escravos pela sua libertação (mencionando a teimosia dos esclavagistas para quem a libertação dos escravos traria a ruína da economia) e a luta dos trabalhadores nos séculos XIX e XX por melhores condições, simbolizada no 1º de Maio. 
Ecos na imprensa local dão conta da grande afluência de público ao ginásio da Escola Industrial e Comercial de Azeméis, do entusiasmo com que Ferreira de Castro foi recebido, da atenção com que foi escutado e das pertinentes questões que lhe foram colocadas. 
A terminar a palestra, Ferreira de Castro incitou a “assistência a estar atenta aos novos valores que constantemente despontam à nossa volta”.
Efetivamente, Ferreira de Castro tinha razão. Os novos valores já andavam por aí e tiveram a sua expressão prática menos de um ano depois: no dia 25 de abril de 1974!
* Leitor do Correio de Azeméis

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