7 Feb 2022
NÃO TÊM CAPACIDADE DE RESPOSTA PARA ACOLHER TANTOS UTENTES
São 704 as pessoas que estão à espera de poder dar entrada numa instituição de acolhimento social para idosos. Um número bastante redondo que promete não parar de crescer.
O Correio de Azeméis ouviu 11 instituições do concelho: Centro Infantil e Social de Cesar; Fundação Manuel Brandão; Lar Santa Teresinha Omas; Lar de Idosos Dra. Leonilda Aurora da Silva Matos em Fajões; Centro Social e Paroquial de S. Miguel; Santa Casa da Misericórdia de Oliveira de Azeméis; Centro da Terceira Idade de São Roque; Residência sénior Albergaria do Campo; Associação de Melhoramentos Pró-Outeiro; Villa Jasmim - Unidade de Cuidados de Saúde; e por fim o Centro Social Paroquial de Pinheiro da Bemposta. De todos apenas não obtivemos resposta do último.
Todos, à exceção da Residência sénior Albergaria do Campo, estão com a lotação máxima de utentes em lar e cada um com uma lista de espera preocupante. É o exemplo da Santa Casa da Misericórdia de Oliveira de Azeméis que tem 128 pessoas em espera por uma vaga, ou o Centro Social e Paroquial de S. Miguel, com uma lista de espera de 80 pessoas.
É, igualmente, importante referir que quase todas estas instituições são IPSS’s. Quer isto dizer que são instituições que estabelecem contratos de cooperação com o Estado, tendo assim isenções fiscais e outras formas de apoio e colaboração previstas na lei. Da lista das 11 instituições contactadas, apenas a Residência sénior Albergaria do Campo e Villa Jasmim são totalmente particulares e sem qualquer apoio do Estado.
Quisemos saber junto destas instituições quais são os critérios de prioridade de escolha para as listas longas como aquelas que se apresentam em Oliveira de Azeméis.
Há uma lista de critérios e de requisitos que o utente precisa de cumprir para poder ter acesso à instituição escolhida. Critérios esses que variam de instituição para instituição e ao qual apenas tivemos acesso ao exemplo do Centro Social e Paroquial de S. Miguel.
Este exemplo tem os valores percentuais, que representam o valor atribuído a cada parâmetro que cada utente é avaliado, perfazendo um total de 100 por cento. É igualmente importante realçar que estes critérios são definidos pela instituição e não pela Segurança Social ou outra entidade do Estado.
Os critérios no caso do Centro Social e Paroquial de S. Miguel, são os seguintes:
1) Conflito familiar/marginalização/exclusão - 13%; 2) Isolamento Pessoal - 12%; 3) Abandono por parte da família - 11%; 4) Ausência ou indisponibilidade da família para assegurar os cuidados necessários - 10%; 5) Situação de dependência que não possa ser gerida noutra resposta social - 9%; 6) Necessidade expressa pelo Idoso - 8%; 7) Situação económico-financeira - 8%; 8) Situação de isolamento geográfico - 8%; 9) Ter um familiar a frequentar a resposta social - 7%; 10) Idade - 6%; 11) Ausência de alternativa residencial - 5%; 12) Residência na área geográfica da resposta social - 3%.
Este é um cenário que não se verifica nas instituições particulares, é o caso da Villa Jasmim, que obtivemos a resposta que esta escolha é feita pela ordem de inscrição.
Muita procura e pouca disponibilidade é esta a situação que se vive em Oliveira de Azeméis, cujos idosos não tem a resposta que todos necessitam.
UM DOS UTENTES JÁ VIVE HÁ UM ANO NO HOSPITAL
15 utentes internados no hospital de São Miguel sem terem para onde ir
No hospital de São Miguel, em Oliveira de Azeméis, há 15 pessoas que permanecem internadas sem qualquer motivo para tal, segundo uma reportagem da CNN Portugal. Sem retaguarda social e sem lugar para onde ir, estas pessoas são obrigadas a permanecer no hospital.
Existe mesmo um caso que já vive nas instalações hospitalares há um ano, devido ao abandono familiar.
Para além da extensa lista de espera para lares em Oliveira de Azeméis, este é um problema que lhe complementa, não existido assim lugar para também acolher estas pessoas.
Miguel Paiva, diretor do Centro Hospitalar de Entre Vouga e Douro, referiu que “isto para o hospital cria uma pressão enorme”, disse à CNN Portugal.
“Nós temos no contexto do centro hospitalar, cerca de 400 camas de internamento e num modo geral temos 30 camas em média, exclusivamente destinadas para este tipo de doentes, ou seja, doentes que já tiveram alta clínica e que apenas estão connosco por falta de retaguarda social”, argumentou Miguel Paiva.
Todos nós queremos, um dia mais tarde, ter um conforto quando chegarmos a uma idade mais avançada. Trabalhamos ao longo de décadas e alguns até 50 anos, para garantir que quando formos considerados inaptos para a sociedade, possamos ter algum dinheiro para nos sustentarmos e desfrutar de um pouco de descanso no resto das nossas vidas.
Para isso temos instituições e apoios que futuramente nos dão auxílio e nos acolhem em caso de necessidade. O problema é quando essas instituições e apoios ficam aquém da resposta necessária para a sociedade. É o caso de Oliveira de Azeméis.
André Ventura, jornalista do Correio de Azeméis