Destaques Ana Isabel da Costa e Silva
Ana Isabel da Costa e Silva *
Cada um de nós tem certamente uma parte da cidade que gosta mais. Talvez, nesse espaço, viva uma árvore há muito tempo.
Para alcançar um determinado tamanho, a árvore necessita de um tempo de vida que ultrapassa o tempo de quem a plantou. Se for plantada num espaço urbano onde não se verificaram mudanças na estrutura urbana ou novas construções, a árvore permanece e torna-se uma escultura viva, um símbolo e um elemento que identifica aquele espaço na cidade.
Em Oliveira de Azeméis, refiro-me, por exemplo, ao largo da República (Rua do Emigrante) onde o Solar dos Morgados de Santo António convive com a escultura, em bronze, de Eduardo Tavares, que pretende homenagear Ferreira de Castro. Ali vive uma árvore, há muito tempo. Aquele lugar na cidade transmite tranquilidade.
Se o compararmos com a Praceta António José Basto, contigua e a uma cota inferior, onde se localiza o famoso edifício bancário desenhado por Álvaro Siza, entre 1971 e 1974, sentimos o oposto: é apenas um espaço de passagem onde ninguém quer permanecer. Não existem árvores e o espaço público encontra-se, há anos, mal desenhado.
A presença da árvore, que marca a continuidade do tempo no espaço, liga-nos àquilo que já passou e nos remete para o que possivelmente se passará na cidade, constrói-se uma linha de continuidade.
O Jardim Público (Praça José da Costa) é um desses lugares. Imaginar as histórias que se passaram naquele espaço ao longo do tempo, as comemorações, as festas, os encontros e desencontros. Espaço de todos.
Há uns anos, também ali, as árvores foram cortadas. A tristeza de ver o Jardim Público sem as árvores frondosas, que abrigavam tudo e todos, foi-se dissipando à medida que as novas árvores foram crescendo.
As árvores são seres vivos e são a casa de outros seres vivos. Crescem connosco e com elas criamos raízes e memórias.
Cada uma das árvores é um ser, diferente das demais que, em conjunto com outras da mesma espécie, tornam-se um conjunto capaz de criar ritmo na cidade, garantindo uma certa melodia nas nossas mobilidades pela cidade.
Há de facto uma urgência de mudança na forma como pensamos a árvore e as árvores. Ela está para além de ser apenas um elemento urbano. Ela é um ser vivo que precisa de ser tratado, acarinhado por todos e, sobretudo, amado por quem vive perto delas.
9 O título quer lembrar o romance intitulado A cidade e as Serras, de Eça de Queirós, publicado em 1901, em que o autor compara a vida agitada na cidade de Paris e a vida pacata na aldeia serrana de Tormes.
* Arquiteta de Oliveira de Azeméis, Ph.D., Master Architect.
anadacostaesilva@correiodeazemeis.pt