20 Sep 2022
Ana Isabel da Costa e Silva *
A 1 de agosto de 1972 iniciam as obras da Estalagem no Parque da La Salette, na nossa cidade. Uma fotografia aérea com a implantação do desenho da Estalagem era incluída na notícia do jornal A Voz de Azeméis, de 12 de agosto de 1972, onde se lia o seguinte: após decorridos alguns anos de luta inglória na forma burocrática que serviu apenas para ir apanhando a elevação do preço de mão de obra.
Se o processo de conceção e financiamento daquela obra ficou envolvido em polémica e em dificuldades várias, o seu estado atual de abandono e a vontade em solucionar, rapidamente, o problema por parte do Município, causa tristeza e desânimo em muitas pessoas, sobretudo naquelas que contribuíram de forma direta para a sua concretização e em familiares daqueles que contribuíram e acreditaram na sustentabilidade daquela obra no futuro.
Lembro que, sensivelmente, há um ano falava-vos, aqui, sobre a Bienal de Veneza, sobretudo na edição de Arquitetura. No Manifesto da Bienal, Harshim Sarkis escrevia:
Acima de tudo, tornámo-nos cada vez mais conscientes dos perigos globais, resultantes das nossas práticas espaciais, incluindo o transporte e o controlo ambiental, mas continuamos a viver como se estivéssemos sozinhos num planeta passivo de recursos infinitos. Parafraseando o cantor Prince, continuamos a festejar como se estivéssemos em 1999.1
Novas iniciativas parecem encobrir o abandono de muito daquilo que herdámos e que, com tanto esforço, foi financiado pelos nossos familiares. O que interessa ter um novo parque urbano se existem partes da cidade que, durante 30 anos ou mais, permaneceram iguais e iguais irão permanecer por mais 30?
Importa salientar o seguinte: a sustentabilidade de uma obra não passa, apenas, pela reconstrução da obra em si mesma. A sustentabilidade de uma obra passa também pela sustentabilidade de outros investimentos, concertados entre si, pensados a vários níveis, envolvendo várias dinâmicas e intervenientes, garantindo, sobretudo, a qualidade no usufruto do espaço da cidade. Mas essa qualidade, em Oliveira de Azeméis, há muito que não a vemos. A cidade permanece vazia...
Num ambiente de esperança, a 1 de agosto de 1972, iniciavam-se as obras da Estalagem no Parque da La Salette. Volvidos cinquenta anos, após o rescaldo da festa da Noite Branca brindada, este ano, com bom tempo, paira no ar da nossa cidade o sentimento de ‘fim de festa’ ...
1 Ver https://www.labiennale.org/en/architecture/2021/statement-hashim-sarkis.
* Arquiteta de Oliveira ded Azeméis
anadacostaesilva@correiodeazemeis.pt