> Carlos Costa Gomes
Numa sociedade que tende em considerar os valores éticos como relativos, predispõe-se à fragmentação dos valores morais como autênticos alicerces essenciais na edificação da realidade humana. Ao relativizar os valores éticos, que têm valor em si, torna-se difícil falar em dilemas éticos, seja em saúde, seja no desporto, seja na vida empresarial, seja numa outra atividade humana, porque tudo é relativo e quando tudo vale nada vale por tudo valer.
O relativismo como doutrina filosófica e política do mundo - que se diz moderno e progressista - tem a pretensão de negar a Ética como ciência que estuda, investiga e avalia o comportamento moral do homem e o desenvolvimento harmonioso da sociedade; o relativismo recusa a Moral como ciência que estabelece um sistema de normas de conduta e que torna possível aquele desenvolvimento harmonioso da sociedade.
A nova doutrina filosófica e política – o relativismo emergente – ao negar a Ética e ao recusar a Moral o que pretende dizer é que a Ética não resolve dilemas éticos, mas é a própria ética que se apresenta como um dilema. Isto é, neste domínio filosófico que procura conciliar as diversas formas de pensar em que tudo pode ser bom, tudo deve ser aceitável, mesmo o inaceitável, o que pretende é fazer desaparecer qualquer referência ética e moral. Assim, não existindo a ética nem a moral também não existem dilemas éticos. Esta visão filosófica, em nosso entender, está errada. E mais errada está no que se refere aos cuidados da saúde.
Se nos esquecemos da Ética (da Bioética) como fundamento da avaliação do comportamento Moral da natureza humana, significa que, nas ciências da saúde em particular (e nas ciências da vida em geral), se passa de uma metodologia do cuidado e observação para o campo da manipulação ou de que pode ser manipulável. Quando deixam de existir referências éticas estáveis, mergulhamos numa ética de conveniência onde tudo tem um preço, mas nem tudo tem dignidade, que muda ao sabor das circunstâncias; temos que aprender uma nova sabedoria no sentido de restabelecer os sólidos valores éticos e morais, para diferenciar o monstro da fada-madrinha - se não ousarmos outra sabedoria que enfrente este relativismo que não distingue o bem e o mal, significa que não conseguimos “libertar de dentro de nós o Caim que em nós habita”.
Carlos Costa Gomes, Professor de Bioética e Ética (ESSNorteCVP) e Embaixador/Formador do PNED