24 Jan 2023
Vítor Januário *
“O Plano de Investimentos Ferroviários 2016-2020” definia prioridades distantes das preocupações que o PCP sempre apresentou, deixando uma linha cinzenta sobre vias que não dependiam de “Compromissos internacionais” ou não tinham o fim ”particular das exportações.” Ora, o Plano Ferroviário Nacional-PFN, que agora se apresenta, inclui a enunciação de pretensões, nomeadamente para a Linha do Vouga, de pouca garantia de execução e de limitada atenção ao serviço prestado às populações.
“Perspetiva-se” e “deve” ser uma concretização que necessitará do empenho absoluto do poder local na defesa do desenvolvimento dos concelhos, não se limitando a observar, a lamentar ou a anuir, pois o anterior Plano não tem mais de 15% do investimento terminado e a Resolução da Assembleia da República que recomendava a requalificação e modernização da Linha do Vouga, de 2017, parece ter sido ignorada, como se o desrespeito por essa aprovação fosse de absoluta normalidade.
A degradação do serviço ferroviário na nossa região é certamente o resultado de sucessivas opções políticas de não fazer depender o investimento público das necessidades da população, mas sim da satisfação de grupos económicos influentes, de preferência com mira exportadora. É, lamentavelmente, uma perspetiva que desequilibra e desvaloriza tanto o interior do país como as periferias arredadas daquele padrão de alocação de recursos. Este efeito foi sendo visível na extensão de toda a Linha do Vouga, de Espinho a Viseu, que tinha, na segunda década do século XX, quase 180 km, enquanto hoje não chega aos 100. Consequentemente, gerou-se mais isolamento e maior deslocação das pessoas, obrigando a mobilidade acrescida e, muitas vezes, a migração para centros urbanos.
O transporte ferroviário contribui para a correção de assimetrias agravadas com o encerramento de serviços públicos, não podendo depender de ligações metropolitanas. Pelo contrário, é um meio facilitador de coesão territorial, bem como social e económica, criando sentimento de segurança de mobilidade das povoações, seja para a cidade de maior dimensão seja para a localidade mais isolada. É ainda por esta razão que deve ser defendido abertamente, pelos poderes políticos locais, o investimento na reabertura de troços encerrados, assumindo-se o interesse regional, a fim de responder às necessidades de qualidade de vida dos cidadãos.
A atenção e a exigência dos órgãos autárquicos bem como dos munícipes serão certamente determinantes para que não fique tudo em formato de anúncio e se defenda o desenvolvimento nacional a pensar na qualidade de vida das pessoas.
* Membro da Comissão Concelhia do PCP