A importância do traçado ao longo do tempo

Ana Isabel da Costa e Silva

Ana Isabel da Costa e Silva *

De acordo com Sergio Crotti, no seu artigo na revista “Urbanística”, de 1986, intitulado “Strade, frontiere interne della transformazione urbana”, os termos como via, estrada ou percurso, designam, terminologicamente e conceptualmente, a dimensão cultural da estrada segundo uma articulada tipologia induzida pelo significado social dos espaços de relação.

Uma via torna-se uma das formas institucionais da sociedade, uma vez que é uma estrutura correlativa dotada de identidade própria, com valor de lugar de encontro, capaz de permitir diferentes formas de movimento. 

A estrada, por sua vez, adquire capacidade de adaptação a contextos diferenciados. Foi um suporte essencial de conquista e de colonização, nomeadamente no Império Romano. Naquela época, a incorporação de certos valores e normas teve impacto na conformação do espaço envolvente, com repercussões que ainda hoje se notam no território. 

Um percurso, por sua vez, indica que uma forma mais individual de movimento no espaço urbano é uma possibilidade, com capacidade, por opção, de configurações muito variadas. É a visão mais humanista do espaço urbano, onde a contemplação e o prazer fazem parte do movimento urbano. 

Em finais do século XVIII, meados do século XIX, um conjunto de transformações políticas, sociais e económicas provocaram uma rutura nos padrões de ocupação do território, cujo reflexo mais evidente foi a concentração de população em torno das cidades devido ao êxodo rural. 

O espaço urbano passa a ser organizado em função de interesses económicos e financeiros decorrentes do aumento da produção industrial. Para conseguir ter alguma força organizativa, os Estados intervêm em termos de investimento nas redes de transporte, nomeadamente na construção de estradas e, sobretudo, na construção de caminhos-de-ferro e melhoramento dos portos marítimos. Mas também descuraram os espaços urbanos, onde as condições de vida e de trabalho não respeitavam a dignidade humana. 

Para a cidade de Paris, Georges-Eugène Haussmann (1809-1891), responsável pela reforma urbana de Paris, determinada por Napoleão III, define uma nova ordem urbana, impondo um traçado regulador que se sobrepôs a um traçado existente irregular. 

Para Fabrizio Zanni, no seu artigo “La strada come regola urbana”, de 1986, o plano de Haussmann, mais do que um instrumento urbanístico, deveria ser considerado uma estratégia de intervenção a grande escala, onde o traçado de um conjunto de boulevards, com os seus alinhamentos, visava a demarcação de pontos de interesse no espaço urbano. A visibilidade, a hierarquia, a procura da beleza, mas também a melhoria das condições de salubridade, a facilidade de policiamento e a funcionalidade eram valores primordiais da reforma urbana de Paris, naquele tempo.   
 * Arquiteta anadacostaesilva@correiodeazemeis.pt 

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