21 Mar 2022
> Monumento Pré-Histórico de Fajões
Há dias, alguns fajonenses recearam que os vestígios ainda existentes dalgumas estruturas da Mâmoa de Prazins fossem destruídos e soterrados por uma máquina retro-escavadora que trabalhava na propriedade onde se situa esta construção dolménica pré-histórica.
Samuel de Bastos Oliveira *
Soou o alarme pela Freguesia de Fajões! E as autoridades foram avisadas e a comunicação social tomou conhecimento.
Como o incidente aguçou a curiosidade, todo o mundo se interroga: o que é/foi e qual a importância da Mâmoa de Prazins?
Em termos muito simples, diremos que tal como as antas ou dolmens, as mâmoas são construções megalíticas, formadas por grandes esteios de pedra (do grego mega, grande + lito, pedra) em cujo interior o homem pré-histórico sepultava os seus mortos.
A mâmoa de Prazins era/é um monumento megalítico de Fajões, constituído por grossos esteios de granito, que, no interior, formavam uma circular câmara funerária onde o homem pré-histórico depositava os seus mortos, e que, no exterior, eram fechados por uma carapaça de terra, para impedir que as feras devorassem os cadáveres, e que dava à construção a forma dum mamilo, daí designar-se por mamoa (do lat.mammula).
A mâmoa de Prazins faz remontar o povoamento da freguesia de Fajões à Pré-História, ao período Neolítico.
Situada no sítio da Portela (imediações a sul da Escola Secundária de Fajões) do antigo lugar da Mourisca, atual Lugar da Cruz, esta Mâmoa constituía, desde o séc. XIII, segundo As Inquirições de 1253, espécie de marco divisório de Fajões com Cesar: «… ad mamonam de Praziis quomodo partit cum cesar». Também a terça parte da área local, que o rei D. Afonso III (terceiro) possuía, era delimitada pela Mâmoa de Prazins: «da pedra de esperão vai ao canto do paço de Martim Rodela, à capela-mor da igreja (de Fajões), à Mâmoa de Prazins».
Por serem muito elucidativas sobre o tema em questão, traduzo do latim para o português parte das Inquirições de D. Afonso III (o Bolonhês), realizadas a 2 de Agosto de 1253 na Terra de Santa Maria, relativas à freguesia de Faiones (Fajões):
«O pároco, Martim Anes, Paio Regal, Martim Anes, João Goncalves, Gonçalo Martins, Pedro Anes, Gonçalo Mendes, jurados, disseram de outiva (de ouvir dizer) que pela pedra de esperão e vai ao canto do paço de Martim Rodela e vai à ousia (capela-mor) da igreja (de Fajões) e vai à Mâmoa de Prazins como parte com Cesar, a terça pertence ao rei e pagam-lhe desse termo o censo conhecido. No mesmo termo está a igreja e não vos presta serviço, sem sabermos porquê (…)
Pouco se tem escrito sobre a Mâmoa de Prazins.
Em 26 de Junho de 1953, ao revelar, em O Regional, vestígios arqueológicos, que encontrei no monte Vale Louro, lembrei também a mâmoa de Prazins como divisória de Fajões com Cesar.
Para a solução da questão de limites entre Fajões e Cesar, publiquei em 1965, notícias no Comércio do Porto e um conjunto de artigos no vespertino portuense Diário do Norte fundamentados em documentos medievais, escrituras e na posição da Mâmoa de Prazins e nos Marcos com data de 1672 e báculo da abadessa da Ave Maria do Porto, que era a donatária da paróquia de Fajões.
Em 08 de Maio de 1982, num Especial do Correio de Azeméis sobre freguesias numa “Breve evocação Histórica” de Fajões referi a Mâmoa de Prazins como divisória com Cesar. Em 1988, a mâmoa de Prazins foi objeto de escavações pelo arqueólogo oliveirense Fernando Pereira da Silva que publicou o resultado do seu estudo arqueológico, em 1994, na revista Ul-Varia, Tomo I, pág.s 23-42.
O espólio encontrado compõe-se de fragmentos cerâmicos, artefactos em pedra talhada, geométricos, lâminas, lamelas, pontas de esta, num total de 199 peças que foram depositadas num museu de Arouca.
Agora, diz-se que o espólio da Mâmoa foi transferido para a Câmara Municipal de Oliveira de Azeméis. Como S. Tomé, para crer, quero ver esses vestígios da Pré-História de Fajões.
* Colaborador do Correio de Azeméis