20 Sep 2022
Helena Terra *
Ao fim de 70 anos de reinado, no passado dia 08, faleceu a Rainha Isabel II. Coroada Rainha aos 25 anos de idade numa cerimónia com direito a transmissão televisiva, Isabel segunda foi uma figura marcante do século XX e destes 22 anos do século XXI.
Começa por ser conhecida como a princesa mecânica quando, aos 19 anos se alistou no exército inglês e passou a integrar o Serviço Feminino Auxiliar do Território, com o nome de Elisabeth de Windsor. Aí iniciou um curso de seis semanas de mecânica e de reparações automóveis. Além desta aprendizagem, a futura rainha conseguiu habilitação para pilotar ambulâncias, jipes e camiões, os quais sabia montar e desmontar por completo, além de trocar pneus, é claro.
Os anos passaram, mas a paixão da rainha por motores e automóveis não passou.
Diversas vezes ao longo dos anos 90 foi possível encontrar a já idosa monarca atrás dos volantes de diversos carros da coleção real. Inclusivamente, foi ela que ensinou os filhos a conduzir e, vez ou outra, reparava os seus automóveis quando apresentassem algum problema.
Em 1965 a rainha cumpre um dos marcos das tarefas diplomáticas, provavelmente, uma das mais importantes para o futuro da europa. Foi uma visita à então Alemanha Ocidental (ou República Federal da Alemanha, lado alinhado ao Ocidente, em oposição à Alemanha Oriental, alinhada à União Soviética). Fê-lo para assinalar os 20 anos do fim da 2ª guerra, não esquecendo que nessa, o Reino Unido e a Alemanha foram rivais, à semelhança do que acontecera já na 1ª guerra mundial.
Um monarca britânico não visitava a Alemanha desde 1913 — desde então, os dois países foram rivais tanto na Primeira Guerra (1914-18) quanto na Segunda Guerra (1939-45).
Dir-se-á sem favor que, Isabel II foi uma personagem incontornável da nossa história coletiva. Daqui até à cobertura 24h por dia que foi dada, durante uma semana, pelas nossas TV’s à morte dela e aos acontecimentos laterais a tal facto, só me ocorre um adjetivo, provincianismo puro e duro e / ou voyeurismo telenoveleiro.
Não me chocava que, no nosso país, fosse decretado luto nacional, por exemplo no dia do seu funeral, tanto mais quanto é certo que se tratava da monarca do país com quem mantemos a mais velha aliança da nossa história. Mas, dai até termos decretado 3 dias de luto nacional parece-me demais. Os mesmos 3 dias que foram decretados pela morte dos nossos 2 últimos presidentes da República que, além de serem, num país republicano como o nosso, os mais altos magistrados da nação, foram dois reconhecidos lutadores antifascistas e dois dos responsáveis pela instauração do regime democrático em que vivemos.
Viva a República!
Que, em paz, descanse a “nossa” rainha!
* Advogada