20 Mar 2025
> Helena Terra
É, cada vez mais um lugar-comum, dizer-se que vivemos numa sociedade individualista, na qual cada um centra a importância em si mesmo. Efetivamente esta é a realidade que o nosso quotidiano revela continuamente. A incontornável crise de valores, leva a que cada individuo se isole como forma de se defender, mas manifestando um isolamento socialmente camuflado, de modo a poder fazer o seu “caminho” sem vacilar e sem se preocupar com o outro ou, já agora, com o grupo ou instituição de que faz parte.
O individualismo caminha no sentido de diminuir a capacidade de sentir com o outro e de excluir a empatia. A humanização é um enorme desafio, principalmente, para aqueles que trabalham na área da educação e do ensino. Se é certo que isto é notório no nosso dia a dia, nas circunstâncias quotidianas mais banais, mais notório e reprovável se torna nos grupos ou instituições. Tivemos um exemplo disso mesmo no governo da nação, e nas circunstâncias que levaram à sua queda. Não havia um problema especial que demandasse respostas prontas do governo. Havia sim vários problemas que deixaram o primeiro-ministro Luís Montenegro “debaixo de fogo”. Não fora o seu individualismo e a híper valorização da parte (a sua) em desfavor do todo (o governo) e o país e não estaria a viver a crise política que vive. A demissão de Luís Montenegro salvaria o governo e o todo prevalecia em relação à parte. Mas só homens grandes são capazes de grandes gestos e a atualidade, triste é certo, recorda-nos episódios marcantes daquilo que atualmente tanta falta faz na política. Miguel Macedo faleceu prematuramente deixando para todos o exemplo de um daqueles que seria, ao tempo, o futuro próximo do seu partido; ter “saído de cena” por ser lançada sobre ele a suspeita da prática de crime do qual duas instâncias judiciais o vieram a absolver. Miguel Macedo sofreu todos os danos de um julgamento na praça pública, mas salvou o governo que integrava do contágio que lhe poderia causar.
Deste exemplo ressalta que o primeiro aqui identificado privilegiou o seu umbigo e o segundo a instituição de que fazia parte. Talvez por isso, tenha deixado boas recordações naqueles que com ele privaram e faça história no partido em que militou (o PSD) e que sempre serviu com convicção e lealdade.
Foi assim com António José Seguro que, depois de ter sido vencido numa disputa que se espera irrepetível na liderança do PS, se afastou deixando o palco àqueles que tinham aberto a boca de cena e que estavam sob as luzes da ribalta aceitando, mesmo que muitos não tivessem compreendido, as regras das escolhas democráticas.
Fenómenos daqueles vão-se repetir nos tempos mais próximos. As eleições legislativas vão implicar, necessariamente, a elaboração de listas de candidatos a deputados. Esta é uma altura em que se revelam os mais diversos egoísmos de parte(s) e muito pouca preocupação com o todo.
Alguns fazendo lembrar a personagem Camiliana, Calisto Elói de Silos e Benevides de Barbuda, a contrário, lembram a ascensão de um “anjo sem asas” que, quando se torna deputado e vai para Lisboa deixa-se seduzir por ambientes de “sedas e organdis” que são a única coisa que lhe confere brilho, mas isso faz parecer, aos olhos de alguns incautos que o seu “anjo” é brilhante. No desenvolvimento deste exercício, por privilegiar a parte, pomos o todo a perder. Tudo tem de ter limites, até o egoísmo.
Helena Terra, Advogada