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Correio de Azeméis

28 Mar 2025

“A política ainda é um meio muito masculinizado”

Concelho

Maria Castello Branco e Mónica Quintela, debateram ‘‘Abril e o Papel da Mulher na Nossa Sociedade’


Na última sessão da iniciativa promovida pelo Rotary Club de Oliveira de Azeméis, ‘5 décadas, 5 debates’, a Biblioteca Municipal Ferreira de Castro recebeu Maria Castello Branco, comentadora política e autora do podcast ‘Lei da Paridade’, e Mónica Quintela, advogada e ex-deputada à Assembleia da República. O tema debatido foi ‘Abril e o Papel da Mulher na Nossa Sociedade’.

“Estou sempre com pressa que essa mudança[de mentalidade] chegue”
“Acho que se tem sido rápido ou lento, depende do ponto de vista de quem espera essa mudança. Porque do nosso ponto de vista, das mulheres, a quem tem sido restrito o acesso a tudo, a toda a esfera pública, a toda a vida em sociedade, à participação, o melhor seria que fosse imediatamente resolvido esta injustiça que é secular e milenar. E, portanto, pelo menos para mim, eu estou sempre com pressa que essa mudança chegue”
Maria Castello Branco, comentadora política e autora do podcast ‘Lei da Paridade’

O adultério feminino durante o Estado Novo
“O adultério, durante o Estado Novo, era crime. E foi crime até 1980. Era crime o adultério feminino. O artigo 372 do Código Penal, de 1986, dizia que se um homem encontrasse a sua mulher adulta com outro homem, tinha o direito de matar os dois. E com isto sofria apenas uma pena de desterro por seis meses. Eram dois homicídios ali de uma assentada, portanto vejamos a evolução que foi feita em termos de violência doméstica. (…) Se os pais encontrassem a sua filha com um corruptor, e se estivesse debaixo do poder pátrio, o pai podia também matar a sua filha e o amante, a menos que o pai tivesse contribuído para tornar a filha sedutora aos olhos do macho. Era isto que dizia a lei (…) O poder marital dava-lhe[ao homem] poder para tudo, inclusive para dar castigos físicos, porque se não quisesse matar, mas quisesse agredir selvaticamente também não era punido”
Mónica Quintela, advogada e ex-deputada à Assembleia da República

As ‘casas das toleradas’
“Durante o Estado Novo foram constituídas e as chamadas ‘casas toleradas’. O que é que eram? Eram as casas onde viviam prostitutas. Quando a mulher saiu para a rua, deixou de estar exclusiva em casa e passou a ir para a rua, os homens ficaram com receio, que as suas mulheres pudessem ser confundidas com as outras. Eu estou a utilizar propositadamente a linguagem que à data se utilizava, com aquelas que se chamavam as mulheres públicas. E para não correr o risco de poderem serem chamadas de mulheres públicas, foram construídas e foram legisladas as casas das toleradas, que tinham que ser construídas fora dos locais dos aglomerados onde viviam as famílias de bem”
Mónica Quintela, advogada e ex-deputada à Assembleia da República

As quotas “são um mal necessário”
“Tinha uma posição em relação às quotas há uns anos. Fui alterando e hoje em dia sou mesmo a favor da existência de quotas. (…) Os estudos que são feitos em relação às quotas, de facto, demonstram que conseguem mudar mentalidades. (…) Existe um estudo, que acho é da Deloitte, que diz que as empresas que aplicam quotas dentro dos seus órgãos conseguem ter muito mais lucros do que as empresas que não aplicam, e, portanto, até é uma questão de racionalidade económica. É importante as quotas para nos habituarmos a ver mulheres em lugares de poder”
Maria Castello Branco, comentadora política e autora do podcast ‘Lei da Paridade’

“Eu também já fui contra as quotas, porque achava que devia ser por mérito. Mas hoje considero que são um mal necessário. Comparo-as muito aos andaimes na execução da obra. São feios, mas necessários. Eu aguardo e anseio pelo dia em que seja possível tirar os andaimes, que seja possível tirar as quotas. Ainda estamos muito longe de lá chegar. Conheço situações em que os partidos, obedecendo às cotas dos 40%, põem as mulheres em lugares para, aparentemente, irem nas listas, mas já obtiveram previamente desistências daqueles lugares para a seguir entrar o homem que está a seguir na lista. E eu não tenho dúvida nenhuma que se forem retiradas as quotas, os homens muito rapidamente vão tapar os lugares das mulheres que lá estão. Não tenho dúvida, porque é um mundo de homens”
Mónica Quintela, advogada e ex-deputada à Assembleia da República

A importância das mulheres na política
“Eu quando estava a crescer, não via mulheres na política. Nunca vi mulheres a falar, era muito pontual. Eu lembro-me de ficar contente quando vi a Manuela Ferreira Leite a ser líder do PSD, porque pensei: eu consigo me identificar, eu consigo ver-me ali, porque eu só via homens. E, portanto, ainda bem que temos quotas, para que as meninas que estão a crescer agora consigam olhar para a Assembleia da República e consigam ver e crescer a pensar: eu posso ser aquela mulher”
Maria Castello Branco, comentadora política e autora do podcast ‘Lei da Paridade’

“Política ainda é um meio muito masculinizado”
“Eu já estive na direção de um partido (IL) em que era impossível arranjarmos mulheres que se quisessem chegar à frente. Impossível. Não faltavam mulheres integradas no partido e que quisessem fazer trabalho de bastidores e, mas ninguém se queria chegar à frente. Porquê? Eu como mulher no espaço público sinto muito mais escrutínio do que qualquer homem. É impossível errarmos uma vez, porque parece que quando erramos uma vez deixamos de ter espaço, quase como se aquele espaço fosse condicionado, quase por favor. E isso ainda se sente muito na política. Uma mulher que entre tem que se sujeitar a um nível de escrutínio, a um nível de muitas vezes, assédio moral, ou assédio. Mas a política ainda é um meio muito masculinizado”
Maria Castello Branco, comentadora política e autora do podcast ‘Lei da Paridade’

A descriminalização do aborto
“O aborto foi descriminalizado e houveram tantas mulheres que morreram por serem obrigadas a fazer abortos clandestinos. As que tinham maiores possibilidades económicas podiam fazer em melhores condições de segurança e de saúde, mas as que não tinham, tantas mulheres que morreram de uma forma bárbara. Recordo que a descriminalização foi, em 1983, muito restrita e depois só com o referendo de 2007 é que, efetivamente, dentro de determinados parâmetros, o nosso Código Penal permite a IVG, portanto, a interrupção voluntária da gravidez”
Mónica Quintela, advogada e ex-deputada à Assembleia da República
 

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