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Correio de Azeméis

26 Feb 2024

A Praceta António José Basto

Ana Isabel da Costa e Silva

Ana Isabel da Costa e Silva *

A Praceta António José Basto, contígua ao Largo da República (Rua do Emigrante), é o lugar do (antigo) Banco Pinto Sotto Mayor, construído em 1974, da autoria do arquiteto Álvaro Siza. Designá-la “praceta” parece correto, se pensarmos no tamanho. Mas se atentarmos ao significado da palavra, a escolha não é acertada. Senão vejamos: praceta é uma praça pequena; praça é qualquer espaço público urbano sem edificações e que propicie convivência e/ou recreação. 
Assim, praceta é uma pequena praça, um espaço urbano de pequenas dimensões, vazio, onde se pode estar e conviver. Ora, a Praceta António José Basto não permite convivência, uma vez que mais de metade do espaço encontra-se ocupado com automóveis. O desenho do espaço público daquele lugar é estranhamente mal desenhado e mantém-se assim há décadas.
Ao contrário do desenho da Praceta, o desenho rigoroso e sensível do edifício do Banco permitiu manter a visibilidade do Solar dos Morgados de Santo António. O desenho da fachada constrói uma harmonia com o edifício existente, a partir do qual Siza procura transferir medidas e volumes, não o imitando. O desenho do Banco não se impõe. Embora sendo diferente, procura construir um diálogo com a envolvente.
A propósito da obra de Álvaro Siza, o arquiteto espanhol Ignasi de Solà-Morales refere que “...a obra foge (...) aos parâmetros da obra de arte trivial, demagógica ou imitativa e assume-se, em primeiro lugar, como força radical e simultaneamente provisória”1. 
Os Oliveirenses, que conhecem a obra de Álvaro Siza, sentem orgulho por terem um edifício desenhado pelo arquiteto português, numa altura muito especial para o país: 1974. 
O desenho do espaço público da Praceta não dignifica os edifícios que a ladeiam. Se não houve sensibilidade para este assunto, conclui-se que a recente decisão de instalar um posto de carregamento para viaturas elétricas, naquela Praceta, significa que os nossos políticos ainda não compreenderam a importância do espaço urbano para as pessoas. Mais do que uma obra de Álvaro Siza, naturalmente com inestimável valor, o espaço urbano da Praceta não se adequa aos desejos e aspirações das pessoas que vivem em Oliveira de Azeméis.
Não se verificou, nos últimos anos vontade política para alterar o desenho do espaço público da cidade e encontrar soluções para que as pessoas possam deixar o seu automóvel bem estacionado e, desse modo, lhes permita percorrer confortavelmente a cidade a pé.
Nos anos 80, o automóvel invadiu, definitivamente, o espaço urbano. Era o sinal do progresso. 
Mas os tempos são outros. As pessoas querem a cidade para caminhar, para percorrer, para usufruir. Caso contrário, preferem ir de automóvel para outras cidades, mais confortáveis e amigas de uma certa mobilidade suave... e assim se vai perdendo, paulatinamente, as pessoas e o comércio... 
 

1  Ignasi de Solà-Morales. “A arquitectura leve de Álvaro Siza”, in Architécti, n. 3, Dezembro de 1989, p.49. 


  * Arquiteta de Oliveira de Azeméis, Ph.D., Master Architect. 
anadacostaesilva@correiodeazemeis.pt 

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