2 Sep 2024
> Helena Terra
Com alguns dias menos agitados, tive tempo para perder nas redes sociais. Quanto ao tempo ter sido perdido, não tenho a certeza se foi tanto assim. Também não tenho a certeza se o tempo aí despendido foi mesmo perdido…
Quase sempre, mas sobretudo nesta altura do ano destinada a férias, romarias e outras festividades, as redes sociais podem ser um “laboratório”, precário é certo, para o início de um estudo sociológico. É enorme o confronto com fábricas de ilusões, mundos, famílias, e relacionamentos amorosos perfeitos.
Abundam as fotos românticas de casais sem qualquer romantismo em locais mais ou menos paradisíacos, pelo menos para a fotografia. Férias de sonho que, no regresso, revelam os velhos problemas das contas que ficaram por pagar e dos mesmos “maus acordares” diários.
Percebe-se também que, por esta altura, há quem passe as férias com o aparelho mágico na mão, quer para bisbilhotar por onde anda o vizinho ou colega de trabalho, sendo que outros aproveitam para revelar a sua enorme ignorância e destilar os seus pequenos ódios e grandes invejas sobre o alvo que apareça mais à mão.
Dou por mim a pensar que, se fosse taxada, a ignorância e a indigência intelectual e social, o país jamais teria défice nas contas públicas…
Nas mais diversas redes sociais, mormente no Facebook, abundam os “opinadores” sobre tudo e sobre nada e os especialistas em coisa nenhuma, professando as maiores aleivosias a roçar o insulto e a má educação. Há quem diga que este é um dos maiores custos da democracia, a dificuldade de conviver e distinguir entre o direito à opinião livre e o dever de respeito e urbanidade pelos outros…
Há dias foi anunciada a introdução, em projetos piloto, de mais uma disciplina no curriculum escolar da escolaridade obrigatória – Literacias. A literacia diz respeito ao ensino e à aprendizagem das habilidades de leitura e escrita. É efetivamente necessário ensinar e cultivar as habilidades das várias leituras e das várias escritas.
As redes sociais deixam bem patente a total iliteracia de uma larga faixa da nossa população, sendo certo que nestes “grupos” abunda gente com nove e doze anos de ensino escolar obrigatório.
Hoje “fala-se mal” na imprensa televisionada e escrita. Hoje, em alguns fóruns, gente com formação académica superior, fala mal, inventa palavras e dissemina a tal iliteracia de que abundantemente se fala. Recordo-me que, no último fim de semana, decorreram as universidades de verão dos dois maiores partidos. Nelas é suposto dar novos mundos ao mundo aos jovens lá presentes para que a nossa classe política vá criando quadros com vista à sua renovação e foi o que se viu e ouviu.
Como foi possível chegar até aqui no país de Camões?
Helena Terra, Advogada