“Admiro este presidente da câmara, é uma pessoa com caráter”

Carlos Pangaio, natural da Valmadeiros, Palmaz, é um dos principais rostos do empreendedorismo em Oliveira de Azeméis. O seu trabalho há muito que é conhecido e reconhecido além das fronteiras do nosso concelho. É o cérebro da empresa Carlos & Luz, responsável pela construção e requalificação de alguns dos edifícios mais marcantes na nossa cidade. No programa ‘ADN Oliveirense’, transmitido pela Azeméis TV/FM e moderado por Helena Terra, Carlos Pangaio contou o seu percurso e fez vários desabafos sobre a ‘sua cidade’. Revelou, também, a construção de uma nova unidade hoteleira em Oliveira de Azeméis e falou sobre a sua relação com o atual presidente da câmara e executivo municipal. 

O regresso a Oliveira de Azeméis
“Fui metalúrgico até aos 20 anos, mas depois teria que ir para a tropa. Fui para os Estados Unidos fugido e só poderia voltar aos trinta e fiz uma promessa a mim próprio e à minha família: no dia em que ficasse livre compraria o meu bilhete e voltaria. Como não queria vir para a hotelaria, na altura meti-me nos materiais de construção. Na altura revolucionei um bocado porque não havia nenhuma casa de materiais de construção. Sempre trabalhei muito. Fechava a porta às 7 da tarde e ia com os meus carpinteiros montar cozinhas até à uma da manhã”. 

Um azar
“Tive o azar de comprar o primeiro projeto aprovado pela Câmara Municipal de Oliveira de Azeméis, onde está hoje a Foto Cine. O que nos aconteceu foi muito grave. Estava tudo vendido e o tribunal administrativo deu ordem para tapar as janelas todas das cozinhas. Nós ficávamos sem viabilidade depois de tudo vendido. Já naquele tempo tivemos que dar 20 mil contos para não fechar as janelas. Aguentei a pancada e segui para a frente”. 

‘Bolfeta’, um projeto em expansão
“O primeiro grande projeto que fizemos foi a ‘Bolfeta’ [em Palmaz]. Fizemos lá as 61 moradias. Sinto-me feliz quando vou a Valmadeiros e passo por lá e olho para trás e penso, fui eu que fiz isto tudo. Somos donos dos terrenos sobrantes e se tiver vida e saúde em breve arrancaremos com essa obra. Fiz homenagem à professora Antonieta Sobral e pus lá a primeira pedra. O ‘Pi5o’ [gabinete de arquitetura] ‘5 e o arquiteto Hélder, que trabalha para mim, vai oferecer o projeto do parque infantil”. 

Erros que se pagam caro
“Uma coisa que eu penso que os executivos anteriores não fizeram bem foi o de criar uma zona industrial em cada freguesia. Foi o maior erro de todos. Com os anos todos em que esta gente esteve na câmara, sempre o mesmo partido, poderiam ter planeado as coisas a longo prazo. Há muitas empresas que fugiram de Oliveira de Azeméis porque não tinham condições para se instalarem”.

“Antes era mais difícil”
“E depois foi feito um pouco à medida dos donos dos terrenos. Cheguei sozinho e penetrar no mercado era difícil. Mas era mais difícil antes do PDM. Antes do PDM tínhamos problemas mais graves. Íamos à câmara com um papelinho e quando regressava o terreno já estava vendido. Neste momento as coisas estão mais controladas. Nós compramos um terreno e pelo menos sabemos aquilo com o  que podemos contar”. 

Uma cidade “emparedada”
“Um erro, voltando atrás, foi o primeiro PDM (Plano Diretor Municipal), em Oliveira de Azeméis. A nossa cidade está emparedada. Ainda hoje para entrar na cidade vindo de Pinheiro da Bemposta, estive meia hora à espera. Acontece a norte e a sul. O PDM foi muito mal feito. Até porque tenho uma reportagem, concedida ao vosso jornal, na altura, em que explicava que em 1000 metros quadrados conseguia construir 1700, um índice de 1.7. Foi uma das razões pela qual vários empreendedores de fora vieram e deu no que deu”.

O atual presidente da câmara
“Tudo que tenho tratado com ele, ele tem resolvido. Vejo que é uma pessoa que tem prazer em que as pessoas vão para a frente. Incentiva e ajuda. É uma pessoa que eu admiro, com carácter. Lembro-me que quando estava a fazer ZI de Travanca, aquelas avenidas, eu disse ao presidente que em infraestruturas e terrenos já tinha investido  2 milhões de euros e que a  câmara poderia pôr, pelo menos,  o tapete. Ele foi muito honesto, disse-me que não. Gostei da atitude. Teve carácter e não me empatou e logo de seguida resolvi o problema”.
Uma maior abertura do executivo municipal
“Penso que a maior burocracia que sempre vivemos foram com as câmaras, mas tenho a dizer que com este executivo, nos últimos anos, as coisas melhoraram muito. Sinto que há uma abertura das pessoas para se sentar e conversar e não é preciso esperar um mês por uma reunião. E isso é muito importante. Mas é sempre possível melhorar”. 

Um município a trabalhar bem
“O nosso município está a trabalhar bastante bem quando comparado com outros municípios. Mas temos um problema, não temos água, não temos saneamento e isso afasta muito investimento. O que está por baixo da terra não dá votos. Não vamos culpar estes que chegaram agora, mas  de há 40 anos até agora fez-se muito pouco. Se olharmos para o pinheiro e Palmaz, não têm água e saneamento e pagam o mesmo IMI sem serviço nenhum. Está errado. As infraestruturas públicas são o maior entrave ao investimento”. 

Um problema grave que foi resolvido
“Este executivo tem  feito muitas obras, umas discutíveis, mas é melhor fazer do que não fazer. Este executivo  tem uma coisa que eu gosto. Os empreiteiros que trabalham para o município também trabalham para mim e dizem que recebem. Antes não faziam nada e deixavam dívidas. Quero dar os parabéns a esta câmara porque em pouco tempo resolveram o problema do Zé da Curva. Pode ter sido a obra mais barata mas foi a mais importante que fizeram. Pouparam mortes e acidentes. Era um crime que havia ali”. 

“A cidade precisa de um centro coordenador de transportes”
"Outra coisa que deveriam resolver é o problema dos autocarros. É uma vergonha o que se passa na nossa cidade. Aquela área que sobra do ‘Caima ‘deveria ser requalificada. Por exemplo, ao lado do ‘Bambu Verde’, tem um sítio espetacular para fazer um centro de camionagem. Um centro coordenador de transportes é fundamental."