“Agarrou-me, apalpou-me e beijou-me à força”

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Jovem denuncia abuso de padre na paróquia de Nogueira do Cravo

Esta é a história de uma jovem de 26 anos, natural de Nogueira do Cravo, que denunciou ao Correio de Azeméis o abuso cometido por Pedro Jamba, o antigo padre das paróquias de Macinhata da Seixa e Ossela.

Aconteceu em 2017 e a jovem tinha 20 anos na época. Depois de uma ida aos CTT para entregar cartas do local do seu trabalho, estava a regressar quando encontrou Pedro Jamba na sua residência, em Nogueira do Cravo, “a varrer as folhas junto à garagem da casa”, começou por contar ao Correio de Azeméis.
“Aproximei-me para o cumprimentar, como sempre fazia, e ele apanhou-me desprevenida. Agarrou-me, virou-me de costas, ficando atrás de mim. Apalpou-me, voltou a virar-me para ele e deu-me um beijo na boca. Tendo ainda voltado a perguntar se me podia tocar novamente, ao qual eu lhe disse que ele a mim não me tocava mais.” Foi assim pormenorizadamente que descreveu a sua história, acrescentando que quando chegou ao trabalho perguntaram-lhe se estava “tudo bem, porque eu estava totalmente pálida. Fui lavar a boca, várias vezes, mas aquela impressão não saía. Senti raiva e ódio”, descreveu.
A pergunta naturalmente pode surgir do porquê naquele momento de alguma forma não se tentar defender ou afastar de Pedro Jamba. “Porque na teoria é fácil falar, mas no momento uma pessoa perde as forças. Eu tive suores frios, como se tivesse tido uma quebra de tenção, bloqueie e só pensava ‘isto está mesmo a acontecer-me?’”, prosseguiu.

O que se seguiu depois
Na época em que tudo aconteceu, o padre que presidia às eucaristias em Nogueira do Cravo era Simão Avelino. Atualmente este é padre apenas na paróquia de Pinheiro da Bemposta, é membro da Congregação dos Missionários de Nossa Senhora de La Salette de Angola, e é o responsável por todos os padres que fazem parte desta congregação e estão no concelho de Oliveira de Azeméis a residirem em Nogueira do Cravo, onde estava Pedro Jamba, confirmou o Correio de Azeméis. Posto isto, “[no final do dia em que aconteceu o episódio de tentativa de abuso] cheguei a casa a chorar, contei aos meus pais, que foram falar com o padre Simão Avelino. Mas ele descartou completamente a situação, disse que era uma coisa normal, justificando que antigamente os padres tinham as suas mulheres para tratar da casa e deles, afirmando que aquilo era tudo normal”, contou a vítima deste abuso.
Assim, foi procurar ajuda psicológica. “Não andava bem. E sozinha não conseguia superar isto”. A jovem acompanhada dos pais foi exigir ao responsável da congregação, padre Simão Avelino, que o padre Pedro Jamba pagasse as consultas no psicólogo, realizou cinco ou seis consultas, “que não trataram, mas atenuaram este trauma.” Até aos dias de hoje a mesma continua a ser acompanhada psicologicamente, conforme o Correio de Azeméis confirmou esta afirmação da jovem.

A queixa e a ajuda “fundamental” do padre José Malenga
Passaram-se alguns anos, “mais ou menos três ou quatro”. Colocamos a questão do porquê de se manter tanto tempo em silêncio e de não ter denunciado o acontecimento mais cedo. “Por uma simples razão, naquele momento não passou uma única pessoa a pé, nem um único carro. Portanto, é a palavra de um contra o outro. Sei que se fosse para um tribunal civil ia gastar muito dinheiro e ele não ia ter a justiça merecida”, argumentou a jovem, que mencionou ainda que os pais foram da mesma opinião e “aconselharam-me a não o fazer”, disse.
José Malenga mais tarde assumiu a paróquia de Nogueira do Cravo, e foi nesta altura “que me alertou que o Papa estava a fazer o levantamento das queixas de abusos na igreja e me ajudou a tentar fazer a justiça que eu tanto queria há anos. Ele deu-me as orientações todas e apoiou-me para denunciar o caso. Aliás, ele acabou um pouco prejudicado por me ter ajudado, a maior parte ficou contra ele. Viu-se obrigado a sair de Nogueira do Cravo e ir residir para Fajões, porque estava tudo contra ele. A saída do padre José Malenga acaba por ser uma vitória para todos eles”, contou a jovem nogueirense, que com a ajuda de José Malenga, redigiu um relatório a contar todos os pormenores do sucedido para o Bispo da Diocese do Porto, D. Manuel Linda, que foi entregue em fevereiro de 2022,  em mãos pelo padre José Malenga, ao  bispo auxiliar Vitorino Soares, confirmou o Correio de Azeméis.  

“Quero limpar a minha imagem”
“Eu estou aqui porque quero limpar a minha imagem.” Estas foram as palavras que proferiu ao denunciar a sua história ao Correio de Azeméis. Conforme revelou, sofreu “bastante” com o julgamento público que foi feito. Questionada de como é que as pessoas sabiam do seu caso, a jovem confessou que no dia em que aconteceu o abuso desabafou no trabalho. “Como referi, perguntaram-me se estava bem e eu comentei o que tinha acontecido”, disse.   
“Muitas pessoas disseram que eu é que me coloquei a jeito. Mas, quem me conhece sabe bem que eu sou de uma família humilde, e no que toca ao meu corpo sempre fui muito reservada”, contou.
“Eu fui falada por todo o povo de Nogueira do Cravo e se as pessoas tinham alguma coisa a dizer, só pedia que viessem falar comigo”, relatou a jovem, que confessou que este problema não a afetou apenas, mas também àqueles que estão a sua à volta, principalmente “a minha mãe, que ficou muito doente psicologicamente com tudo isto”.
“A minha ansiedade disparou, tenho sempre o receio que alguém possa vir atrás de mim. Às vezes tenho momentos em que estou constantemente a olhar para trás, para ver se tem alguém a seguir-me ou não.” 
É assim que tem vivido, deste então, afirmou ao Correio de Azeméis, perseguida pela angústia daquele momento em que viveu, mas acredita que “a verdade vem sempre ao de cima, pode tardar, mas vem.”

 

O encontro com o Bispo D. Manuel Linda 
Em julho de 2023, ainda sem qualquer notícia por parte da Diocese do Porto, decidiu ir à procura de respostas do porquê da demora em sair a sua decisão e o que tinha ficado decidido. Enviou um e-mail para o gabinete episcopal e recebeu deste a resposta que D. Manuel Linda estaria disponível para a receber e falarem pessoalmente. O encontro ficou marcado para o passado dia 08 de agosto. O Correio de Azeméis teve acesso aos e-mails trocados e confirmou a data do encontro. Segundo ainda informou esta jovem, no dia do encontro foi acompanhada do namorado. 

 “[O bispo] disse-me que o Papa neste momento apenas estava a fazer o levantamento de casos de menores de idade e na época que aconteceu comigo, já tinha 20 anos. Portanto, da parte dele não havia mais nada a fazer”, começou por revelar da conversa que teve com o bispo.
Dos e-mails que o Correio de Azeméis teve acesso, é possível ler que a jovem terá pedido uma indemnização, que serviu “para continuar a pagar-me as despesas do psicólogo, porque a minha ansiedade tem aumentado e continuo a ser acompanhada. E é uma forma de ser feita alguma justiça”, justificou em declarações ao nosso jornal.
Nesse mesmo e-mail é possível perceber que a indemnização foi entregue pelo padre Simão Avelino. “Fui com o meu namorado, uma vez que os meus pais não estavam em Nogueira do Cravo.”
“[O padre Simão Avelino] deu ao meu namorado o dinheiro. Chegamos a casa voltamos a contar e faltavam cem euros”, escreveu a jovem no e-mail dirigido ao bispo, tendo ainda apontado que o padre Simão Avelino ficou “de fazer um documento”, com o valor entregue “e até à data ainda não há documento, mas sublinho que só vou assinar o documento que diz respeito ao valor que me foi entregue, se não, eu não assino”, lê-se no e-mail.
No mesmo mês deste encontro, o Bispo D. Manuel Linda dispensou o padre Pedro Jamba das paróquias de Nogueira do Cravo e Macinhata da Seixa.

 

Os primeiros contactos com Pedro Jamba
Conforme contou ao nosso jornal, desde muito nova que esteve ligada à igreja. Foi educada num meio católico e disse ser normal ir à missa ao domingo de manhã e fazer parte da vida da igreja. Integrou os acólitos da paróquia e até chegou a chefiar um pequeno grupo, esteve envolvida no grupo de jovens e ainda fez parte do coro. 
Pedro Jamba nunca exerceu como pároco em Nogueira do Cravo, esse papel cabia, nos últimos tempos, a José Malenga, que a partilhava com Fajões. Assim, o que levava a ligação de Pedro Jamba a Nogueira do Cravo era a sua residência, onde juntamente com outros padres, que fazem parte da Congregação dos Missionários de Nossa Senhora de La Salette de Angola, ali residem numa casa.
De acordo como o que disse, Pedro Jamba, na época em que foi acólita, “era o responsável por nos organizar sempre que houvesse alguma atividade, como por exemplo uma peregrinação a Fátima”, começou por explicar, tendo sido assim que houve um primeiro contacto. Com o passar do tempo, de acordo com o que contou, o pároco começou “a mandar-me mensagens para quando estivesse disponível na minha hora de almoço ligar-lhe porque ele precisava de falar comigo sozinho em minha casa. Estava sempre a insistir e a mandar a mesma mensagem: sempre que estivesse sozinha em casa para lhe dizer. Eu nunca aceitei isso e achei estranho. Sempre lhe disse que se ele quisesse falar comigo marcávamos uma hora e eu ia com os meus pais à residencial, porque aquelas mensagens nunca fizeram sentido e fiquei sempre de pé atrás. Nunca pensei que pudesse acontecer algo deste género, mas sempre desconfiei que não era algo bom”, recordou.

 

O Bispo agiu corretamente 
Pela análise dos factos rigorosamente recolhidos e confirmados pelo jornalista, conclui-se que o Bispo do Porto, D. Manuel Linda, terá tomado conhecimento da queixa da jovem através de um relatório que esta afirma que foi entregue à Diocese em mãos pelo padre José Malenga, à altura pároco de Nogueira do Cravo e Fajões. 
Em julho do corrente ano a jovem enviou email à Diocese, a que o jornalista teve acesso, desabafando por não ter sido atendida a sua queixa e descrevendo com algum pormenor o que a torturava desde há anos, buscando justiça, achando que dessa forma se libertaria do peso do seu trauma. 
No mesmo dia o Bispo ordenou que fosse comunicado à jovem por email a decisão de a receber, indicando datas. 
O Bispo encontou-se com a jovem no Paço Episcopal, seguramente para a confortar e esclarecer algumas dúvidas. 
No mesmo mês de julho passado, data do envio ao Bispo do referido email da jovem, a Diocese do Porto dispensou o padre Pedro Jamba, autor da tentativa de abuso.
EDUARDO COSTA, Diretor 

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