Carlos Costa Gomes *
Se é verdade que as novas gerações socializam de modo diferente das gerações passadas, também é verdade que o novo paradigma de sociabilização – as redes digitais – apresenta elevado risco de isolamento real. As redes digitais, apesar de mitigar, aparentemente, o isolamento, não deixam, contudo, de elas próprias criarem o isolamento social. Mas, o mais preocupante das novas tecnologias digitais – WhatsApp e Snapchat – é o relacionamento virtual de trocas de mensagens, imagens fotográficas das partes mais íntimas com menores, etc.
As redes sociais referidas, entre outras, operam num ambiente de insegurança que coloca em risco a vida dos mais novos quando os mais velhos valorizam pouco o “ambiente real” que se passa no ambiente digital. Uma criança no seu quarto sozinha tem tudo para estar em segurança do mundo real, mas também tem tudo ao seu alcance, no mundo digital, para se expor a elevados riscos, se não for monitorizada pelos pais. O uso indiscriminado do telemóvel a horas e a fora de horas das crianças e adolescentes é o fermento ideal para levedar os riscos associados da utilização desadequada e desajustada desta ferramenta que está em todo lugar, mas ao mesmo tempo não está em lugar nenhum.
Há diversos estudos que demonstram que o sono é uma preocupação crescente, os quais evidenciam que existe um défice de sono nos adolescentes, com graves consequências para a saúde, desenvolvimento e rendimento escolar. A troca de mensagens por tudo e por nada tem nefastas consequências para a vida dos adolescentes que, pese embora, possam recolher-se cedo para o seu quarto para dormir, não significa, exatamente, que estejam a descansar.
O turismo sexual e o crescente cyberbullying são manifestamente temas que devem alertar os pais, uma vez que as crianças e adolescentes são os que mais sofrem com este tipo de crimes.
Os números desta tipologia criminal têm aumentado assustadoramente. Só no ano de 2023 foram identificadas 2295 crianças (dados da PJ), com tendência para aumentar este número em 2024.
A sociedade, o Estado, em geral e os pais em particular têm uma tarefa preponderante na monitorização sobre o tipo de redes sociais que os filhos utilizam. É necessário criar regras de utilização. Os pais, no que diz respeito ao acesso à internet, devem elucidar quem são os monstros e quem é a fada-madrinha. Não fazer nada ou não monitorizar, é admitir que tudo é bom e que tudo é válido. Por trás de um ecrã digital existe o melhor e o pior; assim como na vida real o pior e o melhor acontecem, mas tem um rosto bom ou mau real. No digital o rosto é sempre virtual, disfarçado de bondade que pouco a pouco vai amarrando a vítima, tipo teia de aranha, e quando a vítima se dá conta, o mal já está feito e cujas consequências são sempre indesejáveis.
Os pais, primeiros educadores, não devem nem podem transferir a educação para outras entidades, como são as redes sociais que desconhecem. Aos pais cabe transmitir o ensinamento e a pedagogia dos valores éticos e morais, pois estes são sólidos e definem muito bem o que é o bem e o que é o mal.
* Prof. Doutor de Bioética e Ética (ESSNorteCVP) e Embaixador/Formador do PNED