Bonitos e feios

A TVI repete a “façanha”. Em rodapé, apareceram as razões para que o norte do país tivesse sido mais castigado pela Covid-19: “população menos educada, mais pobre, envelhecida e concentrada em lares”. Vejamos agora as razões da mesma TVI para que a região de Lisboa seja atualmente a mais castigada: “população mais descontraída, menos preocupada, jovem, sem dramas”. Ora vejam como a TVI distingue os cidadãos da capital e os outros. Nada a fazer. É assim que pensam os capitalistas da nossa capital. “Nós” e os “outros”. Só falta dizer que a COVID-19 atacou o norte porque somos “mais feios” que os lisboetas. Na capital, o vírus ataca porque “são bonitos”... Lisboa é Portugal e o resto é paisagem. Sempre foi este o pensamento dos alfacinhas. De vez em quando vem ao de cima o que realmente pensam. Quase evidenciam a ideia de que o lisboeta é uma raça superior. O norte é bom para produzir. Equilibra as contas externas do país. Exporta mais do que importa. E manda o dinheiro dos impostos para Lisboa. Só por isso merecemos alguma consideração dos sábios da capital. Como dizia o ex líder madeirense Alberto João, Lisboa sempre se comportou como a capital de um império, vasto em colónias. Acabou o império, mas manteve-se a capital. As colónias passaram a ser “o resto do país”! É preciso combater essa atitude de “superioridade” que a capital mostra ter. Eles, “os bonitos”. O resto do país, “os feios”. Eduardo Oliveira Costa jornalista, presidente da Associação Nacional da Imprensa regional