1922-2022 - Centenário do Atlético Clube de Cucujães
Carlos Correia
Na época de 1972/73 o ACC, tendo como treinador/jogador João Pinho, viveu um dos momentos mais altos da sua história ao vencer pela primeira vez o campeonato da I divisão distrital de Aveiro, garantindo, dessa forma, o acesso ao campeonato nacional da III divisão de futebol.
À partida, a luta pelo título de campeão distrital passava por outros clubes com melhores condições financeiras e de trabalho que o Cucujães. Clubes como o Águeda e o Oliveira do Bairro apostaram forte na subida à III divisão nacional, reforçando-se com jogadores com larga experiência nos campeonatos nacionais.
O Cucujães, dadas as suas limitações financeiras, apenas podia contar com a chamada “prata da casa”, sendo alguns dos jogadores recrutados em equipas que participavam em torneios inter - empresas, como a Molaflex ou a Oliva.
Os jogadores do Cucujães não auferiam salário, recebendo apenas um prémio monetário em caso de vitória ou empate.
A série de bons resultados que a equipa ia alcançando acaba por fragilizar ainda mais as já frágeis finanças do clube, o que leva a Direção a deliberar a redução do valor dos prémios para metade. O grupo de trabalho reage negativamente, levando a Direção a abandonar o seu propósito.
O campo da Gandarinha não tinha iluminação elétrica, o que não permitia que a equipa aí pudesse treinar à noite. Apenas se podia utilizar uma pequena parte do campo que era iluminada por um poste da luz pública existente na estrada e nesse reduzido espaço se fazia o treino possível.
Muitos dos treinos eram feitos á volta da capela do Parque da Nossa Senhora dos Milagres, S. João da Madeira, para onde os jogadores se deslocavam a correr desde o campo da Gandarinha, assim fazendo o aquecimento. Outras vezes, aproveitava-se a disponibilidade das equipas da região cujos campos possuíam luz elétrica, para aí fazer treino de conjunto.
Com o desenrolar do campeonato confirma-se a forte aposta do Oliveira do Bairro e do Águeda na luta pelo título, ocupando estes clubes os lugares cimeiros da classificação, mas com a companhia do “intruso” Cucujães.
Chega-se à última jornada com o Cucujães a ocupar o primeiro lugar com um ponto de vantagem sobre o Oliveira do Bairro e dois sobre o Águeda.
Na última jornada o Cucujães deslocou-se à vizinha freguesia de S. Roque consciente que precisava de vencer o jogo para ser campeão.
Os cucujanenses uma hora antes do início do jogo invadiram as ruas de S. Roque, numa forte manifestação de apoio à sua equipa.
O Cucujães acabou por vencer o jogo por 3-1, com os adeptos a invadir o campo em busca de uma camisola dos seus heróis, como recordação do primeiro título de campeão da I divisão distrital de Aveiro.
No regresso a Cucujães os adeptos formaram um enorme cortejo, alguns deles deslocando-se a pé, fazendo com que o trânsito automóvel na EN 1, entre a o lugar da Margonça e Faria de Cima, se fizesse a passo.
A festa continuou pela noite dentro no Campo da Gandarinha, com gigantones, dança e muita alegria.
Este final de festa só foi possível porque todos aqueles que fizeram parte da equipa campeã, souberam, com a sua humildade, transformar todas as dificuldades numa vontade férrea de vencer, assente numa forte união entre todos.