Num debate tranquilo, sete mulheres candidatas às eleições autárquicas de 12 de outubro refletiram sobre o reconhecimento das mulheres na vida política e terminaram com mensagens de apelo ao voto. Inês Lamego (PS), Ema Azevedo (CHEGA), Rita Costa (AD-PSD/CDS), Sara F. Costa (BE), Cátia Lamas (IL), Maria Luísa Costa (LiVRE) e Ana Isaura (CDU-PCP/PEV) estiveram à conversa em direto na AzeméisTV.
“Vou começar mesmo pela palavra que o Eduardo utilizou, pela perceção. A perceção é que agora há mais mulheres, não é? Mas eu penso que, mesmo na altura da ditadura, as mulheres já estavam na política, eram elas que lutavam por salário igual nas fábricas, contra a exploração e pela paz, porque muitos filhos iam para a guerra colonial e voltavam num caixão. Não era visível porque a lei não permitia. Com o 25 de Abril houve o direito universal de votar e ser eleita. No entanto, a vida vem mostrar que ainda há muitas diferenças.”
Ana Isaura (CDU – PCP/PEV)
“O LIVRE é extremamente aberto, pretende a igualdade de género. Apesar de haver quotas obrigatórias, no LIVRE essa paridade existe naturalmente. As mulheres são uma presença na política não só por justiça social, mas por democracia. Temos de ter cuidado porque há cada vez mais mortes provocadas por ex-companheiros. É preciso apoiar as mulheres quando são obrigadas a sair de casa; não deveriam sair, é o agressor que deve ser canalizado para algum espaço onde possa ser tratado. É essa a perspetiva do LIVRE.”
Maria Luísa Costa (LIVRE)
“Eu acho que as mulheres cada vez mais chamam a si a possibilidade de disputarem com os homens lugares que eram guardados para eles. Nós queremos o mesmo direito a ser vistas como iguais e a medir-nos em termos da nossa qualidade. Também porque cada vez mais, acredito, a mulher exige que o marido não ajude, mas partilhe as tarefas domésticas. Os homens têm sido os nossos maiores aliados nessa luta. Eu tenho a sorte de ter casado com alguém que sempre me apoiou, compreendeu que essa retaguarda era necessária e nunca me cobrou nada em troca.”
Inês Lamego (PS)
“É a primeira vez que estou envolvida, apesar de sempre ter gostado de política. Do ponto de vista de quem só agora participa, sinto que tem vindo a aumentar a presença feminina. Já tivemos cabeças de lista mulheres à Câmara Municipal e às freguesias. Quero acreditar que não acontece só por ser obrigatoriedade de quotas, mas porque se reconhece valor. As mulheres trazem diversidade de perspetivas que beneficiam a política. Acredito que isso se tem dado cada vez mais importância e que o impacto é positivo, tanto em Oliveira de Azeméis como no país.”
Cátia Lamas (Iniciativa Liberal)
“No Chega valorizamos as mulheres não por serem mulheres, mas por serem competentes. A sub-representação não se explica por falta de capacidade; existe um conjunto de fatores sociais, mas sobretudo uma escolha pessoal. A política é um espaço duro, exigente, competitivo. Muitos homens assumiram esse espaço, enquanto a mulher teve papel central na família. O problema não é o género, mas o sistema político, muitas vezes dominado por máquinas partidárias. O papel da política não é forçar quotas, é abrir portas e garantir que quem tem mérito entra nelas.”
Ema Azevedo (Chega)
“O tópico das mulheres é-me muito peculiar. Eu identifico-me com o Bloco de Esquerda porque contribuiu para a emancipação da mulher. Foi o Bloco que propôs a lei da paridade. Antes do 25 de Abril a mulher não era considerada cidadã, era de segunda. Hoje é fundamental que tenha visibilidade e que deixe de ter medo. Há ainda uma pressão invisível que faz com que a mulher tenha menos coragem de se expor. As quotas são necessárias para incluir, para dar espaço a quem tem menos espaço público. Quando há mulheres na política, a sociedade muda também.”
Sara Costa (Bloco de Esquerda)
“Tenho alguma experiência como membro eleito e não eleito. Fiz um trabalho de casa e verifiquei que houve uma evolução significativa: nas primeiras eleições livres tínhamos 7% de deputadas, hoje há quotas de 40% a 50%. Em 2005 havia 21% de mulheres na Assembleia da República, em 2019 eram já 38%. Penso que a Aliança também acompanhou esta evolução. Existem ainda barreiras, mas sinto que o facto de ter estado em grupos com mais homens fez com que outras mulheres se sentissem confortáveis para se juntar. Estamos no bom caminho, cada vez mais próximo da paridade.”
Rita Costa (AD – PSD/CDS)
“As mulheres oliveirenses devem sair e votar porque para votar morreram muitas pessoas. Antes do 25 de Abril as mulheres não eram consideradas cidadãs. Estamos melhores, mas ainda há muito a fazer: a igualdade está na lei, mas não na vida. Apelo a que todos votem com consciência, que leiam as ideias dos partidos. No caso dos trabalhadores, a CDU cá está e tem propostas que ajudarão a que tenham melhores condições de vida.”
Ana Isaura (CDU – PCP/PEV)
“O LIVRE acredita que Oliveira de Azeméis deve ser um concelho mais justo, mais verde, mais progressista. Lutamos por habitação acessível, por apoio efetivo aos jovens e idosos, por uma economia inovadora que valorize o talento e por transportes e passeios seguros. Defendemos também o património e as associações locais. Queremos que cada freguesia seja tratada por igual, o que nem sempre acontece. É essa a mensagem que deixo às mulheres oliveirenses. Apelo ainda a que visitem o site do LIVRE para conhecerem melhor as nossas propostas.”
Maria Luísa Costa (LIVRE)
“Já estou na Câmara há oito anos. Se senti alguma barreira, não foi por ser mulher, mas por ser mais jovem. Nunca senti que ser mulher fosse uma desvantagem, sempre me senti considerada. Acho que há ainda alguma condescendência em certas matérias, mas a determinação com que defendemos as causas ajuda a mudar o paradigma. Quando uma mulher se mostra preparada, convicta, com firmeza, o destinatário tende a ser convencido. A lei das quotas existe para corrigir assimetrias e não podemos esquecer esse caminho. Importa não retroceder perante discursos misóginos que surgem nas redes sociais.”
Inês Lamego (PS)
“Sinto que, de forma geral, as pessoas nos recebem bem. Não sinto diferenças por ser mulher. Mas noto que entre os jovens há sinais preocupantes. Ouvem-se conversas misóginas, atitudes de controlo sobre as raparigas. Tenho receio de que esta geração olhe para um cartaz de uma mulher candidata e pense ‘esta não’. É preciso trabalhar desde cedo nas escolas, incutir o conceito de igualdade. As redes sociais têm um impacto muito grande e transmitem ideias fora do razoável. É fundamental educar e formar para não termos retrocessos no futuro.”
Cátia Lamas (Iniciativa Liberal)
“Os munícipes não me tratam de forma diferente por ser mulher. Importa é se conseguimos representar os seus interesses. As quotas até podem ter intenção positiva, mas acabam por desvalorizar a mulher. Eu quero acreditar que estou na lista porque sou competente. Rejeito a ideia de que os eleitores se preocupam com o género. Eles preocupam-se é se somos capazes de os representar com honestidade e dignidade. O mérito deve ser o critério e não o sexo. É isso que defendo.”
Ema Azevedo (Chega)
“Uma coisa é a experiência pessoal, outra é o fenómeno social. Ainda há infantilização da mulher: nenhum homem aos 39 é considerado demasiado jovem, mas as mulheres são. Há esta condescendência, este hábito de chamar ‘menina’. Internacionalmente contam-se pelos dedos as líderes políticas. Não é por falta de competência. As quotas existem para fornecer contexto e permitir que a representação seja real. A democracia só funciona com participação ativa e vigilância. Se houver desinteresse, abre-se espaço a retrocessos. É fundamental zelar pelos direitos conquistados.”
Sara Costa (Bloco de Esquerda)
“Acho que os nossos candidatos têm sido muito bem recebidos. A nossa lista conjuga experiência política com pessoas reconhecidas na comunidade, mas sem ligação anterior à política. Apresentamo-nos sempre como equipa, complementando-nos, e por isso não sentimos distinção entre homens e mulheres. Há um legado de conquistas que deve ser respeitado, mas preocupa-me a polarização que vemos nas redes sociais, com influenciadores a transmitir visões estereotipadas da mulher. Isso pode constituir um entrave à igualdade e um retrocesso no que foi alcançado até hoje, sobretudo entre os mais jovens.”
Rita Costa (AD – PSD/CDS)