10 Oct 2022
Helena Terra *
Na passada semana, comemoraram-se 100 anos do surgimento e edição ininterrupta do jornal Correio de Azeméis. Atualmente, em Portugal, jornais centenários são 37 e o nosso Correio é um deles.
Este é um facto importante por si só, mas, sobretudo pelo que isso significa. Estamos num concelho grande com 163,41 km² de área, e mais de 66 000 habitantes, distribuídos por 12 unidades territoriais que emergiram de um total de 19 freguesias. Alguns dos lugares deste concelho distam 30 minutos de viagem do centro do concelho. E a única forma de percorrer esta distância é em viatura própria. Sendo que, neste particular, não foram muitas as coisas que mudaram nos últimos 100 anos.
É, pois, de extrema importância a existência deste jornal que é semanário e que, num concelho com uma população envelhecida, é o único jornal que entra na maioria das casas de muitos oliveirenses e, por isso o grande elemento que os liga à sede do concelho a que pertencem. Além disso, não nos esqueçamos que há lugares das freguesias do nosso concelho que, em termos de proximidade e acessibilidade, estão muito mais próximos da sede dos concelhos nossos vizinhos, como é, por exemplo o caso de São João da Madeira e Vale de Cambra.
Em múltiplas circunstâncias, quando chega o Correio de Azeméis a alguns agregados familiares é a identidade do respetivo concelho que entra porta a dentro. E num tempo em que o sentimento de pertença é cada vez menos arreigado e o conceito de vizinhança se alterou, há alguns pequenos pormenores que se transformam em pormaiores.
Durante muitos anos assumiu primordial importância a figura dos correspondentes. Alguém que, graciosamente, prestava ao jornal o serviço de enviar notícias de relevo das freguesias a que pertencia e que, noutra altura em que a informação circulava a muito menor velocidade, era a única forma de as notícias chegarem em tempo útil e relevante a toda a gente.
O Correio de Azeméis conquistou um lugar na comunidade oliveirense e em comunidades vizinhas que é seu por direito próprio, mas que deve ser motivo de orgulho para todos nós. Além disso, e tendo Oliveira de Azeméis uma grande comunidade oliveirense emigrante espalhada pelos quatro cantos do mundo, o Correio de Azeméis tem ainda a função de quebrar a saudade e de ser um veiculo de ligação da diáspora à sua terra natal. Tal facto, certamente, nos últimos anos terá assumido alguma responsabilidade, no regresso de alguns luso descendentes de países de onde os mesmos eram naturais e se sentiam nacionais, mas onde as condições de vida eram intoleráveis, como era e foi o caso da Venezuela, Muitos deles conheciam este pedacinho de litoral que é o nosso apenas pelas histórias dos seus antepassados e, eventualmente, pelo nosso Correio de Azeméis que lhes chegava e que os fazia perceber que esta, sendo uma terra próspera no que toca à oferta de mão de obra poderia ser, agora para eles, o El Dourado que, muitas décadas antes, os seus antepassados procuraram num país que lhes ficou de herança como pátria.
Venham outros 100 anos que as gerações vindouras saberão, com a inspiração daqueles que com ele festejaram 100 anos e outros que os festejarão em breve, saberão honrar e acautelar. Parabéns!
* Advogada