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Correio de Azeméis

8 Oct 2025

“Correio de Azeméis” completa mais um aniversário

Opinião António Magalhães

> António Magalhães

No dia 5 de Outubro de 1922, após período de longa expectactiva, aparecia o primeiro número, composto e impresso na Tipografia Progresso, no Largo de Camões, em Aveiro.
A escolha de um dia 5 de Outubro não foi fruto do acaso. O fundador, Bento Landureza, afirmou-se sempre como um aferrado republicano, integrando um extenso e activo grupo em que se incluíam, muito principalmente, conhecidas figuras da então provinciana vila, de Couto de Cucujães, de Palmaz, de Pinheiro da Bemposta, de Nogueira do Cravo, de Santiago de Riba-Ul e de Cesar.
Mas a defesa da República, gravemente ferida pelas estéreis lutas políticas – que viriam a conduzir, pouco mais de cinco anos depois, ao 28 de Maio – constituía a grande preocupação do recém-nascido jornal. Sob o pseudónimo de P. de Jac., o inesquecível professor santiagoense António José Pinho Costa escrevia: “Quando ouvimos o coro de maldições que os adversários da República, mascarados ou não de republicanos, entoam à conta mais superficial miséria geral, nós sentimos lágrimas de indignação e de revolta por motivo dessa tragédia e caluniosa campanha de difamação. A República não tem sido um regime prejudicial à prosperidade do país, não comprometeu o bem-estar de nenhuma classe, não cerceou a riqueza nacional, não sufocou iniciativas nem tão pouco arremessou a nação para a esterilidade apática do indiferentismo – antes pelo contrário”.
E quanto aos ideais que norteariam o jornal, não existiam quaisquer dúvidas. Logo no primeiro parágrafo do texto de apresentação, o director Dr. Basílio Lopes Pereira – um vulto grande que de Mortágua para aqui veio no prosseguimento da sua carreira de notário e aqui se radicou, situando-se como pioneiro na fundação da Escola-Livre – deixou escrito textualmente, sob o título “O nosso código”: “É muito simples, o Correio de Azeméis, dirigido por republicanos e por democráticos, é, necessariamente, uma folha que se destina com a colaboração das organizações do Partido Republicano Português a cooperar no engrandecimento da República, e, desta forma, a trabalhar por uma Pátria Maior”. E mais adiante: “É preciso entregar o País a si mesmo, arrancá-lo às mãos dos falsos políticos, sejam eles monárquicos ou republicanos, de aqueles que não querem entender que a Política é ciência de bem governar os povos - não é o processo de iludir a confiança da Nação”.
Bento Landureza queimou tudo na defesa daqueles que considerou serem os grandes interesses de Oliveira de Azeméis e dos Oliveirenses. A saúde, as energias, o património, as amizades. E assim se foi distraindo. Quando, talvez já tarde de mais, olhou para trás, sentiu-se amarguradamente só. Pior ainda, conheceu muito cedo o travo amargo da viuvez e a situação foi dramática para si e para os filhos.
Esgotado, desiludido, envelhecido e empobrecido, ruma à África e entrega o jornal ao filho Francisco Landureza, que a ele se entrega apaixonadamente, tudo fazendo para preservar o património que restara. Lutou com as maiores dificuldades, teimou quase até à exaustão, tentando nova vida em terras do Brasil, para onde partiu em 1966. Uma vida que lhe sorria quando a morte brutal o surpreendeu no vigor dos anos.
Correio de Azeméis, e por razões que não vêm agora ao caso, conheceria um longo período de vida atribulada, vindo, em boa hora, a cair nas mãos dos nossos notários, que, nos alvores da década de oitenta, o depositariam em novas mãos, as mãos que o conservam.
O “Correio de Azeméis” entrou então no período mais esplendoroso da sua longa existência. A evidência dos factos dispensa quaisquer palavras.
(assinatura manuscrita: Custódio Ve... [ilegível])
(Escrito de acordo com a anterior ortografia)

 

António Magalhães

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