AZFMA poluição nos rios do concelho de Oliveira de Azeméis já não é novidade para a população e para as entidades responsáveis pela gestão das Estações de Tratamento de Águas Residuais (ETAR) e, segundo a Associação de Municípios das Terras de Santa Maria (AMTSM), só ao longo deste ano foram identificadas na zona de Ossela cerca de 70 descargas anómalas.
Já há muitos anos que a ETAR de Ossela e a ETAR de Salgueiro, em Santiago de Riba-Ul, são motivos de preocupação para os cidadãos, entidades e instituições ligadas à área ambiental. Nos últimos meses, através de registos fotográficos ou de vídeo, a população tem captado imagens das águas “moribundas” que saem da ETAR de Ossela para o rio Caima e que, até à data, parecem não ter fim à vista. A AMTSM, entidade gestora do Sistema em Alta, informou o Correio de Azeméis que está em curso uma campanha de controlo iniciada no passado dia 29 de julho em três indústrias locais, com a recolha de amostras para análise.
“Até ao final do ano serão realizadas 51 recolhas de amostras em ações de identificação, prevenção e fiscalização das descargas de águas residuais industriais”, afirmou o secretário-geral da AMTSM, Joaquim Santos Costa, em resposta ao e-mail enviado pela nossa redação. “Acontece que, cada vez com maior frequência, verificam-se descargas de efluentes com características que prejudicam o tratamento biológico da ETAR”, concordou. No entanto, a Quercus – Associação Nacional de Conservação da Natureza lamenta “a ausência de informação” sobre este problema. “As ações de fiscalização são obrigatórias e não se compreende esta falta de transparência. Quer as autoridades locais ou um cidadão preocupado tem o direito de ver a informação e não tem sido esse o caminho”, apontou Raul Silva, do Núcleo Regional de Aveiro. “Nós próprios estamos a fazer o controlo da água e, desses resultados preliminares, posso adiantar que há valores que não estão dentro do que é legalmente exigido”, acrescentou.
Há mais de dez anos que este caso de poluição é conhecido e, para já, a solução passa por “um grande investimento” nas ETAR do concelho, especialmente em Ossela. “A resolução deste problema exige o empenho das várias partes envolvidas, nomeadamente sensibilização da necessidade de pré-tratamento eficaz por parte das indústrias, um reforço da fiscalização por parte das entidades gestoras e uma maior eficácia no tratamento do efluente por parte da AMTSM”, exemplificou Joaquim Santos Costa. Para Raul Silva, esta situação “não pode ser difícil de resolver”. “Não conseguem controlar estas empresas? Onde estão as ações de fiscalização?”, questionou. “Não nos parece que tem havido vontade de resolver isto. Nos últimos dois anos, houve melhorias porque há cidadãos interessados que registam estes casos”, lembrou.
Intervenções nas ETAR podem atingir valores de “mais de 15 milhões de euros”
Para o presidente da Câmara Municipal de Oliveira de Azeméis, existem três pontos essenciais para a resolução deste atentado ambiental - resolver o problema da rede de saneamento do concelho, investir na requalificação das ETAR e realizar ações de fiscalização. “Precisamos de investimentos substanciais, uma vez que as ETAR estão muito absoletas”, descreveu Joaquim Jorge, em declarações ao Correio de Azeméis. “Precisávamos de uma segunda linha de tratamento, por exemplo, em Ossela, e de obras que atualizem as ETAR que permitam que elas tratem os efluentes que lá cheguem de uma outra maneira”, explicou. Agora, o edil estipula que sejam necessários cerca de 12 a 15 milhões de euros para intervir nas duas ETAR e afirma que tem alertado a Associação de Municípios das Terras de Santa Maria por causa dos investimentos necessários. “Turisticamente, o nosso concelho está a ser prejudicado por esta situação. Temos uma série de planos para os nossos rios, mas é evidente que todos esses planos ficam prejudicados se não tivermos qualidade na água”, declarou Joaquim Jorge. “Para termos passadiços, zonas de lazer e praias fluviais, temos que ter os rios com águas límpidas”, lembrou. Recorde-se que, em 2018, a AMTSM assinou um contrato de sete anos onde previam um investimento de 9,5 milhões de euros para as ETAR de Ossela e do Salgueiro, onde 5,5 milhões euros eram destinados à operação e à manutenção das infraestruturas e os restantes quatro milhões de euros serviriam para a requalificação dos 15 quilómetros de emissários.
“Se a água tivesse qualidade, seria mais um ponto turístico na freguesia”
Apesar de as juntas de freguesia não terem competência para resolver estes casos, é com preocupação que também encaram esta poluição dos rios do concelho. “Esta situação vai fazendo com que haja uma perceção negativa da freguesia de Ossela, porque a ETAR está em Ossela”, lamentou o presidente da Junta de Freguesia de Ossela, José Santos, em declarações ao Correio de Azeméis. A presidente da União das Freguesias de Pinheiro da Bemposta, Travanca e Palmaz, Susana Mortágua, realçou ao Correio de Azeméis que “tem de existir vontade política” para encontrar uma solução para este problema. “É necessário um grande investimento”, afirmou a autarca. “Pode haver formas de pressionar todos os municípios para tentarmos agir, uma vez que o rio não é aprazível para banhos e, se a água tivesse qualidade, seria mais um ponto turístico na freguesia”, sublinhou.
Oliveirenses fazem circular uma petição em prol do rio Caima
O Correio de Azeméis também esteve perto de um dos focos de poluição em Ossela, situado na Ponte dos Cadeados. Na passada sexta-feira, vários oliveirenses decidiram mostrar o seu desagrado perante a situação e juntaram-se no local. José Costa, de Nogueira do Cravo, declarou que este problema perturba a natureza. “Este sítio, por exemplo, seria um ótimo local para turismo. Sentimo-nos desiludidos com as entidades competentes”, lamentou. Florimundo Carvalho, de Oliveira de Azeméis, concordou. “Não temos uma praia fluvial por causa da água poluída e o saneamento é inacreditável. Precisamos do turismo”, apelou. Há dois meses, foi criado um grupo de Defesa Ambiental do Rio Caima que está a fazer circular aa petição pública online ‘Pela despoluição do Rio Caima’. “O objetivo é o de sensibilizar a população e ser o suporte do anseio da mesma para a despoluição do rio”, explicou Sérgio Bastos, realçando que é Eduardo Martins, de Palmaz, quem tem dinamizado o grupo. Até ao momento, a petição conta com mais de 500 assinaturas.