É como a minhoca, não é?

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Vitor Januário, CDU – Coligação Democrática Unitária

A vulgarização progressiva do discurso de ódio, xenófobo e, com maior ou menor dissimulação, racista, deixa a sociedade, para já, num contraste entre o que não se admite na aprendizagem escolar (não se aceita a ofensa, a humilhação,a rejeição do que é diferente) e o  que parece ganhar entusiasmo no meio extraescolar (convive-se, até na Assembleia da República, com a ofensa, a rejeição do que é diferente e tenta-se a humilhação). De facto, na escola, quer-se e ensina-se respeito, mas fora dela tolera-se que a intolerância possa entrar nas decisões dos políticos e na propaganda. Neste contexto, promete-se lei para não tolerar outros, para perseguir outros, para escorraçar outros. Visam-se imigrantes, políticos, sindicalistas e o que mais houver nesse propósito. De regresso à escola, ensinam-se jovens a pesquisar, a não se submeter a qualquer informação de duvidosa veri cação, a não tomar como certo o que apenas gera impacto só pelo efeito do deslumbramento, a procurar demonstração. Talvez não baste passar de fugida pelo padre António Vieira para
lembrar a cegueira dos peixes perante a isca colocada no anzol. Na verdade, a complexidade da vida em sociedade não se percebe no curto tempo de um tiktok, montando a ofensa como uma brincadeira, a rejeição como uma piada, a mentira como uma verdade só porque é diferente do que se diz e, por isso, parece mais forte. No entanto, as nossas vidas podem ser decididas em menos tempo do que o de uma publicação no tiktok – no voto, por exemplo. Portanto, o voto constrói-se. Recordo que passei de raspão (apenas uma parte da infância) na época em que este direito existia só para alguns. Era ainda tempo do que, mais tarde, soube tratar-se de uma ditadura que
desmerecia mulheres e que perseguia os que defendiam (como eu e os meus camaradas defendemos hoje, livremente) a democracia e a justa distribuição da riqueza. O discurso que se vulgariza e que leva à inacreditável apologia do ditador Salazar não é uma anedota. Em vez disso, é um propósito sério, tanto quanto a divertida canção de Sérgio Godinho: “O fascismo é uma minhoca (não é? lá isso é)/ que se in ltra na maçã (não é? lá isso é)/ ou vem com botas cardadas/ ou com pezinhos de lã”. Desse tempo, por onde passei rapidamente,
lembro-me de que não me permitiu conhecer uma torneira e um sanitário dentro de casa, a mim e aos de muitas ruas da minha terra; que não permitiu a muitos dos que eram vizinhos ter melhor lar do que o abrigo de bairro de lata; que não permitiu residir, a tantos de nós, melhor habitação do que a que não se livrava dos roedores furtivos. Naquela época, lá no meio do país esmagado pelo governo tirano, só via aventura nas brincadeiras com as outras crianças, mas nunca encarando como piada a agressão da reguada na escola, que tinha claramente preferência nos visados, porque igualdade de tratamento sem palmatória só mesmo com democracia respeitadora das diferenças (já bem depois de Abril de 74). Portanto, tratava-se de um regime que favorecia sempre apenas alguns. Percebi, muitos
anos depois, que isso também acontecia com quem detinha poder económico, num sistema de corrupção cínico porque se apregoavam valores do bem e do mal, mas mantinha-se na miséria e na ignorância uma multidão incontável  de gente. Percebo hoje que o discurso que se exalta com uma moral seletiva não consegue deixar de criar suspeita sobre quem vive em condições precárias ou quem tem sido presa fácil da segregação. Também interpreto agora com mais clareza essa agressividade discriminatória na medida em que não se
mostra na exigência de regras para o explorador, que não cumpre igualdade salarial em função do género, que condiciona a vida de famílias trabalhadoras, que não é obrigado à justa distribuição da riqueza, que obtém avultadíssimos lucros, mas não larga mais do que cêntimos no subsídio de refeição, e que acumula riqueza à custa do esforço de quem o ajuda a gerá-la. Confundir democracia com liberdade expressão do ódio é, como dizia Mário de Carvalho, noutro contexto, “confundir o género humano com Manuel Germano”. Cabe a cada democrata combater o truque e a manipulação. Os  que integram a CDU não deixarão de ter este empenho. 

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