8 Oct 2025
José Manuel Terra moderou o debate que contou com a presença do fundador e antigo presidente da Proleite, Casimiro de Almeida, e do atual presidente do Conselho de Administração da cooperativa, Víctor Santos
São Martinho da Gândara> setor leiteiro em debate
A Casa da Eira, em São Martinho da Gândara, foi palco de uma tertúlia onde o passado e o futuro do setor leiteiro se cruzaram em tom de conversa e partilha. No centro do encontro estiveram o comendador Casimiro Almeida, fundador e antigo presidente da Proleite, e Víctor Santos, atual presidente do Conselho de Administração da cooperativa. A moderação ficou a cargo de José Manuel Terra, que guiou uma conversa viva sobre a história, as transformações e os desafios da agricultura e da produção de leite em Portugal.
Num ambiente próximo e familiar, rodeados de agricultores, técnicos e antigos colaboradores, os oradores revisitaram as origens da Proleite, fundada há mais de seis décadas, e refletiram sobre o papel das cooperativas no desenvolvimento das comunidades rurais.
“No dia 7 de janeiro de 1964 comecei a trabalhar na cooperativa, nem sabia que existia uma cooperativa. Nessa altura, o leite era levado em bilhas; só mais tarde começámos a pasteurizar e a embalar,” recordou Casimiro Almeida, que presidiu à cooperativa durante várias décadas e se manteve ligado à instituição até à atualidade.
Para o antigo dirigente, a história da Proleite é também um retrato da evolução do país. “No 25 de Abril nós tínhamos a licença para recolher leite, mas não atuávamos porque as federações não o deixavam. Foi a altura de saltar os postos,” contou, evocando os tempos em que a liberdade de atuação dependia ainda de autorizações políticas e administrativas.
Víctor Santos, que hoje lidera a Proleite e integra o grupo Lactogal, fez questão de reconhecer o legado deixado pelos fundadores. “A marca Mimosa é a marca mais reconhecida pelos consumidores nacionais em bens de consumo. E essa marca nasceu aqui, no coração de Oliveira de Azeméis. É um orgulho para esta região,” afirmou.
A conversa percorreu também os grandes temas da atualidade. Víctor Santos destacou que “o leite é dos produtos alimentares mais controlados que existe; não há nenhuma dúvida sobre isso.” Mas advertiu que “temos muito poucas unidades totalmente licenciadas” e que o setor “precisa de inovação, de apoio e de investimento” para responder às novas exigências de sustentabilidade, bem-estar animal e certificação ambiental.
Casimiro Almeida, por sua vez, lembrou as transformações que a produção viveu nas últimas décadas. “Portugal, nos anos 60 e 70, tinha mais de 70 ou 80 mil produtores; agora estamos em cerca de 3.500.” Apesar dessa quebra, sublinhou que “a quantidade de leite triplicou, o que mostra o impacto da tecnologia e da organização cooperativa.”
Víctor Santos reforçou a importância de manter viva essa herança. “Nós produzimos alimentos todos os dias que estão na casa de todos os portugueses. Essa é a nossa responsabilidade,” afirmou, defendendo que o futuro passa por “continuar a inovar e alargar o espectro da cooperativa”, nomeadamente através do apoio técnico aos produtores e da diversificação da atividade agroalimentar.