6 Dec 2023
O Clube Escola Livre de Azeméis festeja o centenário. 1 de Dezembro de 1923 é a data oficial do nascimento.
A primeira referência do “Correio de Azeméis” à Escola Livre data de Março de 1923 e aí pode ler-se: “A Direcção da União Desportiva Oliveirense já nomeou o Conselho Organizador da Escola Livre de Azeméis, instituição que vai fundar para o desenvolvimento físico, intelectual e moral dos seus associados. Ficou assim constituído: Rodolfo Albuquerque - director da secção da Arte de Representar; Alfredo Gama - Educação Física; Manuel Almeida - Música e Canto; António Cunha - Artes de Desenho; Hilário Marques - Filantropia; Dr. Basílio Pereira - Estudos Gerais e Biblioteca Popular; Augusto Hilário Ferreira dos Santos - director sem função específica”.
Posteriormente, aparece uma outra notícia com o esboço dos estatutos, que apontam os propósitos seguintes: “erguer à maior altura o culto augustíssimo do Dever, nas formas eternamente belas do desenvolvimento físico, intelectual e moral, traduzindo-se esse dever na maior e crescente observância dos ditames de todas as virtudes que fazem verdadeiramente o Homem”.
Na mesma altura aparece noticiada a aprovação do emblema da Escola Livre. A pedido de Bento Carqueja, o consagrado mestre António Carneiro, natural de Amarante, acedeu graciosamente à elaboração do trabalho. Trata-se de uma Vestal, isto é, uma sacerdotisa de Vesta, “deusa romana brilhante e pura como a chama, filha de Rea e de Saturno, que tinha à sua guarda a manutenção do fogo sagrado”; o emblema mostra, efectivamente, uma graciosa figura de mulher afagando a chama com as mãos.
Certo é que, na mesma época, foram fundadas no País mais Escolas Livres, com destaque para a de Mortágua, terra natal do Dr. Basílio Lopes Pereira, um devotado servidor da Escola Livre de Azeméis. Nele residiu, de facto, a grande força motora.
Há quem coloque o dedo da Maçonaria na origem das Escolas Livres. O secretismo que rodeava e rodeia ainda a organização cívica jamais permitirá averiguar o quer que seja sobre a Loja Oliveirense. O aparecimento, há anos, em residência da nossa cidade, do avental e outros utensílios em uso nas cerimónias leva a admitir quem possa ter sido o “Patrão da Loja” à data do encerramento, imposto após 28 de Maio.
Inquestionável é que à Escola Livre de Azeméis devem a nossa terra e a região importantíssimos serviços. Para além de múltiplas actividades culturais, tais como a criação de uma tuna famosa, teatro, biblioteca, ciclo e conferências, etc., foi por sua iniciativa que se efectuaram, na vila provinciana de então, as primeiras plantações de árvores ao longo das ruas. As frondosas tílias da Laje, nas bermas de velha estrada Porto - Lisboa, mais tarde sacrificadas, por imposição da Junta Autónoma das Estradas, ao camartelo do progresso (?), ficaram a dever-se à Escola Livre.
A mesma Escola Livre entregou-se apaixonadamente à introdução do hóquei patinado entre nós e em todo o Norte do País; ela nos deu ainda a nossa primeira piscina, palco de disputadíssimas provas nacionais de natação; um equipamento que constituiu na época motivo de invejado orgulho… sendo anterior à famosa piscina de Espinho.
Vencidos os escolhos surgidos ao longo do percurso, e que sempre se erguem, ciclicamente, na vida dos homens e das instituições, o Clube Escola Livre festeja, pujante, o centenário.
Fica aqui a homenagem possível. Aos atletas, aos dirigentes, aos técnicos e aos associados de hoje. Curvemo-nos à memória dos que tombaram pelo caminho e não podem, fisicamente, participar nas celebrações.
Confiemos no futuro da prestimosa colectividade.
(Escrito de acordo com a anterior ortografia)