Espaço do Urbano
Ana Isabel da Costa e Silva
A presença física no espaço urbano significa que se gosta de passear, de conhecer algo novo ou inesperado, encontrar os outros, procurar algo que falta em casa. A presença física no espaço urbano significa que pertencemos a uma comunidade. Nós somos seres sociais, por natureza. Basta pensar no tempo em que estivemos privados desse encontro, devido à pandemia, para considerarmos que é vital, para todos nós, o convívio, o estar com o outro e conversar. O grau de contacto, certamente variável, é fundamental para nos conhecermos, nem que seja apenas ‘de vista’.
O que encontramos na presença do outro no espaço urbano é conforto, segurança e, acima de tudo, confiança. Confiança, por exemplo, para deixarmos os nossos filhos saírem de casa sozinhos para irem a pé para a escola, pois sentimos confiança no outro e no ambiente que nos envolve. Sabemos que há alguém a ver, a cuidar, a proteger o bem comum. Se assim fosse, talvez as filas intermináveis para deixar os filhos de manhã na escola terminassem...
Jane Jacobs, no seu livro intitulado ‘The Death and Life of Great American Cities, de 1961, refere que ‘a confiança na rua forma-se com o tempo e a partir de inúmeros pequenos contactos públicos (...) resulta na compreensão da identidade pública das pessoas, uma rede de respeito e confiança mútuos e um apoio eventual na dificuldade pessoal ou da vizinhança’.
Percorrer as ruas da cidade dá mais oportunidades a todos, nomeadamente para exercitar o corpo, para criar oportunidades ao pequeno comércio, para evitar menor consumo de energia e, desse modo, produzir menor quantidade de dióxido de carbono. Caminhar e usar o espaço público não necessita de espaços desenhados especificamente para um determinado uso, o que permite, justamente, a convivência entre aqueles que querem ir mais rápido, aqueles que param para conversar ou aqueles que esperam por alguém e caminham devagar. Desse modo, evitaríamos o absurdo imposto pelas ciclovias em zonas consolidadas da cidade, cujo desenho e espaço disponível são muito questionáveis.
O espaço público bem desenhado, que privilegia o peão, dá oportunidade à multiplicidade de opções e liberdade à complexidade de usos que são o ideal para um ambiente urbano vivido, com pessoas.
* Arquitecta e docente da
Faculdade de Arquitectura
da Universidade do Porto,
natural e residente em O. Azeméis
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