Espaço do Urbano
Opinião
“Decidi correr o risco e aceitar o desafio de participar neste espaço editorial com o objetivo de contribuir para a construção do nosso mundo, pela vontade de refletir, convosco”
Ana Isabel da Costa e Silva *
Marshall Berman, no seu livro intitulado ‘Tudo o que é sólido se dissolve no ar’, explica que ‘ser moderno é viver uma vida de paradoxo e contradição. É sentir-se fortalecido pelas imensas organizações burocráticas que detêm o poder de controlar e de, simultaneamente, destruir comunidades, valores, vidas; e ainda sentir-se compelido a enfrentar essas forças, a lutar para mudar o seu mundo, transformando-o no nosso mundo’. Nesse sentido, decidi correr o risco e aceitar o desafio de participar neste espaço editorial com o objetivo de contribuir para a construção do nosso mundo, pela vontade de refletir, convosco.
Pela presença, ainda demorada, da pandemia, que nos obrigou a permanecer no interior das nossas casas, urge resgatar a nossa presença física no espaço urbano e na ‘construção’ de ideias sobre ele, onde se possa encontrar, justamente, o sentido da empatia, desinvestindo na arrogância, e percorra motivos para a aceitação e reconhecimento do outro, nas suas semelhanças e diferenças, em vez do repúdio ou alheamento.
O sentido de resiliência e, simultaneamente, a vontade de participar na construção de ‘algo maior’, motivou a reflexão sobre o ‘espaço urbano’ e contribuir para a ‘construção do espaço do urbano’.
Estas duas expressões parecem iguais, mas não são: por ‘espaço urbano’ pretende-se fazer referência ao território físico, àquele que usamos para nos deslocarmos, para nos relacionarmos, livremente, com o outro, onde nos podemos fazer ouvir, ou seja, ao espaço da representação. O ‘espaço do urbano’ tem, por objeto, a construção do território das ideias, onde podemos colocar em evidência as razões de certas opções relativamente ao território físico ou ainda encontrar justificação para determinadas escolhas do indivíduo face a outro indivíduo ou em relação ao ambiente que o envolve.
Como afirmou J. K. Rowling, escritora e autora da coleção Harry Potter, no discurso que proferiu na Universidade de Havard, a 05 de junho de 2008, nós não precisamos de magia para transformar o nosso mundo, nós já carregamos todo o poder de que precisamos dentro de nós: nós temos o poder para imaginar melhor. E, justamente, ao partilhar convosco as minhas e as vossas inquietações procura-se alimentar, abertamente, a imaginação para encontrarmos pontos comuns que permitirão refletir e, quem sabe, encontrar soluções sobre algumas questões da nossa cidade.
Só precisamos de imaginar melhor...
* Arquitecta e docente da Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto, natural e residente em O. Azeméis
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