20 Sep 2022
Urb@nidades - Rui Nelson Dinis
Rui Nelson Dinis *
O lamentável episódio com a criança que teve de ver o jogo sem camisa em Famalicão, deve ser repudiado, mesmo que a ação estivesse de acordo com os regulamentos existentes.
Esta polémica, no entanto, levanta o véu sobre o modelo de assistência aos jogos em estádios de futebol. Ter espetadores a assistir ao vivo aos jogos, não resolve o problema do financiamento dos clubes (que esperam mais das receitas televisivas), mas está demostrado o seu maior interesse para o espetáculo em si, quando o jogo é acompanhado ao vivo num estádio cheio e com público vibrante, com efeitos manifestos na qualidade competitiva, na qualidade do jogo e no interesse das próprias transmissões televisivas.
O atual modelo começou a separar adeptos e a criar “caixas” nas bancadas, para pessoas e adornos. Estas separações surgiram em resposta aos comportamentos de violência das claques e ao crescente menor civismo e intolerância entre adeptos, mas estenderam-se a todos os espaços.
Em vez de serem punidos os infratores, agiu-se sobre as vítimas, impondo regulamentos, de forma pouco clara e frequentemente mal explicada. Longe vai o tempo das famílias e adeptos, defensores de clubes diferentes, assistirem lado a lado aos jogos de futebol. Mais facilmente se fazem regulamentos.
Tais opções foram feitas de forma unilateral pelos órgãos do futebol, ao abrigo da sua autonomia, mas sem a necessária sindicância por parte das autoridades públicas, nem sobretudo do bom senso. A maior parte das vezes para não enfrentarem interesses de claques organizadas e agressivas. Os equívocos começaram aí.
(Nota histórica de um pai solidário: há alguns anos atrás, levei um dos meus filhos, de seis anos, a um jogo da taça de Portugal no estádio do Restelo. Os bilhetes foram comprados por um amigo e quando pretendemos entrar no estádio, num pacífico jogo Lusitano de Évora - FC Porto, fomos impedidos de entrar e aceder à bancada prevista, porque o meu filho tinha a camisola do clube errado. Ou isso ou ele teria de a tirar.
Obviamente, recusei fazê-lo, dei a volta ao estádio com o meu filho e pedi para entrar noutra bancada, destinada a adeptos do clube. Os responsáveis pelos acessos aceitaram a explicação e permitiram que entrássemos e assistíssemos ao jogo. Nunca aceitaria tirar a camisola ao meu filho para assistir ao jogo. A esse ou a outro qualquer).